Review Mama: Se prepare para muitos sustos com Jessica Chastain

O Cinema de Buteco adverte: o texto a seguir possui spoilers e deverá ser apreciado com moderação.

poster mamaDESDE QUE GUILLERMO DEL TORO ASSINOU A PRODUÇÃO DO IRREGULAR NÃO TENHA MEDO DO ESCURO, ficou a grande dúvida sobre o nível de horror/sustos e qualidade de qualquer outra obra com a assinatura do genial cineasta responsável por O Labirinto de Fauno. Felizmente, ao contrário do que aconteceu no longa-metragem estrelado por Katie Holmes e Guy Pearce, a adaptação do curta espanhol Mama agradará não apenas os fãs de Del Toro mas também os admiradores do gênero terror.

Com direção e roteiro de Andrés Muschietti (também assina o curta original), Mama já merece a atenção do público por colocar Jessica Chastain em uma obra menor e completamente diferente de tudo dos projetos anteriores da atriz indicada ao Oscar 2013 por A Hora Mais Escura. Com cabelos curtos e escuros, Chastain é uma moça marrenta que gosta de encher a cara bebendo Heineken enquanto toca baixo na sua banda de garagem. Não é a melhor atuação de sua carreira, mas certamente um trabalho que merece ser visto. Nikolaj Coster-Waldau, mais conhecido como o regicida Jaime Lannister, da série Game of Thrones, interpreta dois personagens e consegue mostrar eficiência em dois tipos com personalidades tão diferentes. Isabelle Nélisse e Megan Charpentier cumprem bem o complicado trabalho de bancar as duas crianças complexadas.

O filme apresenta a história de duas menininhas que após serem encontradas dentro de uma cabana no meio de uma floresta digna de A Bruxa de Blair, são adotadas pelo tio ilustrador (Coster-Waldau) e sua namorada baixista (Chastain). Como se não bastasse o problema natural de lidar com duas crianças, o casal irá descobrir que a tal da Mama não era apenas um delírio criado para garantir a sobrevivência e sanidade das pequenas Victoria e Lilly.

Apesar de elementos dignos das fábulas de Del Toro, o roteiro de Mama parece ter buscado inspiração no famoso caso de Amala e Kamala, as meninas-lobo encontradas na Índia, em 1920, para aprimorar o que é visto no curta-metragem. Apesar de estudos recentes questionarem a veracidade da história, o que aconteceu foi que um reverendo encontrou duas meninas vagando na floresta próximas de uma loba, que tentou defender as pequenas e foi abatida. Amala e Kamala, que tinham dois e oito anos, foram levadas para conviver em sociedade e sofreram com a drástica mudança de ambiente. A mais jovem morreu pouco depois de ser encontrada, deixando a irmã sozinha até sua morte anos depois.  Na época se acreditava que crianças criadas por animais estavam de alguma maneira ligadas ao caos, maldições ou sinal do capeta.

lilly isabelle nélisse

A semelhança entre o caso de Amala e Kamala com Victoria e Lilly é evidente, especialmente no que diz respeito ao desenvolvimento das personagens ao longo da trama. Enquanto Lilly apresenta um quadro de retardo mental elevado e mantém seus hábitos selvagens e seu grande afeto pela entidade Mama, Victória se recupera de maneira gradual. A menina mais velha chega a temer pela segurança de Annie, demonstrando ter um grande carinho por sua nova mama.

Uma das melhores cenas de Mama é justamente aquela que faz uma alusão direta ao curta que inspirou o filme. As duas meninas descem as escadas lentamente e descobrem que Mama está um tanto puta da vida (a legenda traduziu erroneamente como “Ela é louca”, quando o correto seria “ela está brava”) e começam a correr desesperadamente para a segurança do quarto. Somando com outros três momentos de sustos garantidos (um rapaz do meu lado chegou a soltar uma exclamação seguida de movimento involuntário com as mãos no momento em que Annie abre o armário para descobrir se tem alguma coisa lá dentro), Mama já merece facilmente um lugar na lista de destaques de terror de 2013.

Ainda que seja necessário relevar alguns detalhes do roteiro (por que Mama não decidiu jogar as meninas do precipício antes? Como é que Victoria aceitou tão fácil o fato de que Luke não era o seu pai? Na verdade, será que ela chegou a aceitar isso?), mas são perguntas que podem ficar sem resposta para o melhor aproveitamento da obra. E sinceramente, elas não fazem  a menor diferença ou diminuem a qualidade de Mama como entretenimento inteligente para os consumidores de um gênero tão castigado nos últimos anos.

Nota:[tresemeia]

Para quem não viu, confira o curta-metragem que deu origem a Mama: