CONTINUAÇÕES COSTUMAM DECEPCIONAR OS FÃS DO FILME ORIGINAL, especialmente quando se tratam do desenvolvimento de um bom filme. Ninguém se importa de ver continuação para Os Mercenários ou Velozes e Furiosos (ainda que as continuações das duas obras sejam muito superiores aos originais), mas quando se trata de imaginar um novo filme para Kick-Ass, a coisa se complica. Fica mais delicado ainda após tomar conhecimento que Matthew Vaughn, diretor do longa-metragem de 2010, deixou o cargo para o (semi-desconhecido) Jeff Wadlow. No entanto, mesmo com tudo jogando contra, Kick-ass 2 se revela uma surpresa tão boa (ou seria melhor?) que o filme original.
Dave (Aaron Taylor-Johnson) está passando por um período chato em sua vida após ter deixado de combater o crime nas ruas. Ele pede para Mindy (Chloe Moretz) treiná-lo, mas a orfã do Nicolas Cage acaba sendo proibida de se envolver no combate contra os criminosos da cidade. Chateado com a vida, Dave se une ao grupo de patrulheiros do Coronel Estrelas e Listras (Jim Carrey) para combater o crime. Paralelamente, Motherfucker (Christopher Mintz-Plasse) inicia a sua vingança mortal contra Dave e Mindy.
Podemos afirmar que não existe muita classe ou sutileza no estilo de Wadlow, que parece ter estudado profundamente o cinema de Quentin Tarantino para filmar cenas de violência gráfica extremas. Se o primeiro longa já havia chocado muita gente, a continuação alopra de vez e pode deixar algumas pessoas mais sensíveis desconfortáveis. Porém, assim como na trama anterior, ainda há muito espaço para diversas piadas, o que alivia bastante a violência da produção. Em comum com os filmes de Tarantino, como o recente Django Livre, o diretor tenta convidar o espectador a se divertir enquanto os personagens promovem verdadeiras sessões de mutilações e assassinatos. Chocar o espectador comum parece ser o objetivo de Kick-Ass 2, e ele consegue sucesso nisso. Tanto que Jim Carrey se recusou a participar de qualquer campanha de divulgação, alegando que se sentiu envergonhado com a violência do filme. A diferença é que Wadlow é um nome novo no mercado e não é o Quentin Tarantino para poder se esquivar das possíveis acusações de apologia à violência.
Fora a violência excessiva (mas bem-vinda), Kick-Ass 2 acerta nas piadinhas. Em determinada cena, Dave aparece usando uma camisa amarela com os dizeres: “Eu Odeio Reboots”, opinião compartilhada pela maioria dos cinéfilos espalhados pelos bares e cinemas do mundo. As tentativas de Mindy em ser uma adolescente comum são hilárias, ainda mais ao explorar o fato de que ela não é mais uma criança e agora começa a descobrir sensações até então impensadas, como sentir tesão. Já o grupo de heróis liderado pelo Coronel Estrelas e Listras garante a diversão justamente por misturar personagens bizarros e com motivos bem peculiares para se tornarem combatentes do crime. A cereja do bolo é a vilã Mãe Russia, que representa uma ameaça letal contra a vida de todos que cruzarem o seu caminho e protagoniza uma sequência visceral envolvendo oito viaturas policiais.
Meio que numa tentativa de “substituir” Nicolas Cage, Jim Carrey surge como o principal nome do elenco da continuação. É engraçado ver o ator participando de uma história tão violenta assim, mas é ainda mais notável a sua transformação para viver o Coronel. Méritos da equipe de maquiagem que destruiu o rosto de Carrey (tornando-o quase irreconhecível) e para (talvez) uma sutil referência ao trabalho de Marlon Brando, em O Poderoso Chefão, na maneira de falar do personagem. Mintz-Plasse, o eterno McLovin, de SuperBad, continua garantindo bons momentos. Desta vez, ele está acompanhado de John Leguizano, que interpreta o braço direito do vilão.
Kick-Ass 2 é indicado para quem sabe identificar a violência exagerada como uma versão deturpada da realidade, e não como uma grande apologia ao uso de armas para buscar justiça pelas ruas. A continuação conseguiu superar o original trazendo muito mais personagens e conflitos, e acertou ao aumentar a violência de uma maneira ainda mais chocante do que no primeiro filme. Se você ainda está assustado com aquela famosa cena em que Nicolas Cage atira na própria filha, prepare-se para ver coisas muuuuito piores. Surpreendentemente divertido, ele dosa bem o humor com o choque e tudo isso pelo carisma de seus protagonistas, Taylor-Johnson e Moretz. Aguardamos ansiosamente pela (possível) próxima aventura!
Nota:[quatro]