Jogo de Cena

A partir da verdade, dúvida. A cada cena, um jogo. Em Jogo de Cena, diferentes mulheres se apresentam e, muitas vezes, representam fragmentos de uma intimidade. Na produção, o realizador Eduardo Coutinho convida, por meio de um anúncio de jornal, pessoas comuns e atrizes para contar (suas) histórias. Estabelecido o contrato, que chega a ser despretensioso e instável, o espectador é imerso em um jogo de “pega-pega” –sim como aquele da infância–, permeado por uma série de relatos, emoções, encenações e desconfortáveis posicionamentos.

Perdas, sonhos, maternidade, a fé ou a falta dela são apenas algumas características do universo feminino e que conduzem a não-linearidade de uma história – esta que se costura em micro-narrativas de um enredo nada particular. Entre os relatos, tem a mulher que engravida no primeiro “encontro”, mulher que chora a perda de um filho, mulher que sente saudade do cheiro da infância – depoimentos estes, que também agregam superação, sensibilidade e vitórias.

Há quem imagine que, sob o palco, tudo tende ao espetáculo, mas o documentário busca ir além. Filmado em um teatro vazio, Coutinho constrói a produção decorrente de uma desconstrução, a fruição chega decorrer do meta-acontecimento. O método se torna produto e vice-versa. Aqui, ele permite que a visitação aos roteiros da memória siga de forma livre, para deflagrar as personas que se apresentam ao olhar do espectador.

Coutinho (que já realizou filmes como Cabra Marcado Para MorrerEdifício Máster, Peões) chega com uma proposta desafiadora. Nesta produção, não reconhecemos papéis com muita clareza, nem mesmo o nosso, de meros espectadores ideais. Por isso assistir Jogo de Cena chega a ser uma experiência válida e instigante, pois serve como exercício de reflexão sobre o papel do indivíduo – neste caso, refletido por mulheres -, como ator social, fálico e de reinvenção.

Ora iluminados pelo reconhecimento, ora apenas espectadores da realidade, o ser humano tende a ser a(u)tor de si mesmo, para mudar os rumos de seu enredo e a estética do seu cenário. Reitero, assistir este filme é uma experiência válida, pois é um filme de múltiplos sentidos, e o abandono destes. Assista, e reveja para quem sabe, assim, não colocar em “xeque” o tal jogo que se faz em cena.

Direção: Eduardo Coutinho
Produção: Eduardo Coutinho
Roteiro: Jacques Cheuiche
Lançamento: 09.Nov.2007
Nota: