JACK REACHER É A HOMENAGEM DE TOM CRUISE PARA OS CLÁSSICOS DE AÇÃO DO CINEMA DOS ANOS 80. O baixinho que acredita possuir a capacidade de voar (vide cenas de ação em Missão: Impossível – Protocolo Fantasma) resolveu encarnar a sua própria versão do Chuck Norris no longa-metragem dirigido por Christopher McQuarrie (roteirista de Os Suspeitos). Felizmente, especialmente para os fãs do gênero, o resultado combina misturas de boas cenas de porrada com um senso de humor sarcástico muito bem vindo.
Jack Reacher – O Último Tiro é a adaptação de um romance escrito por Lee Child (que inclusive faz uma breve participação especial como o policial que cuida da liberação dos presos em uma cena). Para quem pensava que a única franquia da carreira de Cruise fosse Missão: Impossível, vale o alerta de que O Último Tiro é o nono livro de uma longa série literária. Para o bom entendedor: caso as bilheterias sejam atraentes para os estúdios, não duvide da existência de uma possível nova mina de ouro para Cruise. De qualquer maneira, a história gira em torno de um sniper que é acusado de um crime que não cometeu. A única pessoa que pode provar a sua inocência é o agente rebelde conhecido como Jack Reacher. Pode parecer bobo e recheado de clichês, mas a produção funciona e cumpre bem a sua proposta.
Cruise demora a ser apresentado ao público, que acompanha uma longa introdução com o “duro de matar júnior” Jai Courtney mostrando para o espectador quem é o vilão, e os personagens de David Oyelowo e Richard Jenkins (sempre ótimo) discutindo sobre a identidade de Jack Reacher. Apenas pela maneira como as cenas trocam da discussão dos policiais com os passos de Reacher, o espectador recebe o aviso de que o filme terá elementos de cômicos passeando junto da ação. Mesmo quando algumas das piadas são involuntárias e partem da percepção distorcida de quem assiste (como a cena do cinco contra um – calma, cinco babacas contra o mocinho).
Como qualquer filme de ação que se preze, o diretor conseguiu criar pelo menos uma sequência capaz de prender a atenção até mesmo de quem não gostou tanto da trama: a perseguição de carro é de tirar o fôlego. O público ainda é recompensado com uma conclusão perspicaz e bem safada de todo o caos causado pelo personagem. Podemos até dizer que perseguições de carro viraram clichês do gênero, mas desde que seja de qualidade, qual o problema?
Só que essas “manias” costumam ser um verdadeiro tiro pela culatra em algumas oportunidades. Dentre os clichês irritantes de Jack Reacher – O Último Tiro, podemos destacar dois momentos em especial: a primeira cena do agente Emerson (David Oyelowo) apresenta o sujeito empunhando a sua arma e fazendo cara de “ding dim ding dim”, mas de “eu sou foda” ele não tem nada. Um dia irei entender o motivo para introduzir os personagens em situações desnecessárias. A outra parte irritante envolve a “inédita” (só que ao contrário) cena de luta na chuva. Até quando os roteiristas irão tentar refilmar suas próprias versões de Blade Runner ou Máquina Mortífera? Não aguento mais ver dois caras deixando as armas de lado para ficarem se socando na chuva. Saudade da forma como o Indiana Jones resolvia seus problemas.
Um erro é tentar levar o filme muito à sério, afinal de contas Jack Reacher é um sujeito que raramente usa armas de fogo e prefere a força dos próprios punhos na hora de resolver seus problemas. Apoiado especialmente no carisma de Cruise, o longa-metragem é uma verdadeira viagem descompromissada para o universo dos filmes de ação dos anos 80, com direito até mesmo a um vilão assustador (interpretado pelo lendário cineasta Werner Herzog) mas que representa apenas um terror psicológico. Caso ganhe continuações, Jack Reacher será um personagem a mais para se admirar na carreira de Cruise. Os fãs de ação agradecem.
Nota:[tres]