Inverno da Alma

Logo de cara, a primeira impressão que Inverno da Alma passa é de ser um filme arrastado e chato. Mas depois de vencer a resistência inicial e se decidir a ver os motivos que fizeram esse filme ser tão elogiado e concorrer ao Oscar de melhor filme em 2011, fica fácil se perder no roteiro adaptado de um livro ainda inédito no Brasil. Os leitores do Cinema de Buteco já devem ter visto a empolgada crítica que o Jairo Souza escreveu no final de janeiro, então não vou me aprofundar demais nesse texto.

O que chama mais a atenção na produção é o seu baixo orçamento. Foram gastos apenas US$2 milhões, o que é até menos do que os “indies” do Oscar passado: Preciosa (US$10 milhões) e o premiado Guerra ao Terror (US$11 milhões). A diretora Debra Granik acabou ficando de fora da disputa ao prêmio de melhor direção, o que acaba sendo uma grande injustiça se analisarmos o excelente resultado das atuações do grupo de atores. Jennifer Lawrence (Ree, a personagem principal) é o ponto forte de Inverno da Alma. Se não fosse a intensidade com que se entregou ao personagem, seria apenas um drama independente com um excelente roteiro. Mas não é apenas Lawrence que se destaca no elenco: John Hawkes (sósia do cantor Paulo Miklos) dá vida para um soturno Teardrop, o tio de Ree. A transformação que Teardrop transmite para o público é sensacional. Como o Jairo disse em seu texto, a atmosfera do filme é pesada demais para existir espaço para uma vida com lazer. A dor e as dificuldades são as únicas coisas em comum para os habitantes das geladas montanhas do sul dos EUA.

Para todos aqueles que gostam de refletir sobre as diferentes culturas existentes em países de primeiro mundo (o que não os torna tão diferentes assim de nossa própria realidade) e de acompanhar histórias de mulheres independentes, Inverno da Alma é indispensável. Existe um clima de road movie no ar, quando a personagem passa a procurar pelo pai desaparecido. Em nenhum momento a relação dos dois parece ser amorosa, apesar de existir lealdade da parte dela. É com uma frieza típica de quem cresceu com responsabilidades de adultos, que Ree passa por maus bocados para tentar localizar o pai. Debra Granik merece quatro caipirinhas pelo seu excelente e profundo Inverno da Alma.