EM 1991, O TAL DO STEVEN SPIELBERG JÁ HAVIA DIRIGIDO SEUS PRINCIPAIS CLÁSSICOS, como E.T. – O Extraterrestre, Tubarão, Contatos Imediatos de Terceiro Grau e Os Caçadores da Arca Perdida, e vinha do lançamento do discreto Além da Eternidade, em meados de 1989. Inspirado no clássico da literatura Peter Pan, de J.M. Barrie, Spielberg retomou o espírito infantil de E.T. e dirigiu um belo longa-metragem chamado Hook – A Volta do Capitão Gancho.
Como não podia deixar de ser, a obra tem muitos dos ingredientes tradicionais da carreira do cineasta. Mais do que nunca, o conflito entre pais e filhos é explorado, desta vez com Robin Williams no papel de um Peter Pan envelhecido e desmemoriado e de uma criança travessa interpretada por Charlie Korsmo (que fora um filme adolescente em 1998, não fez nada além). O Capitão Gancho (Dustin Hoffman) entra em cena para ganhar a afeição do garoto e deixá-lo contra o pai. Ou seja, Hook é nada mais do que (mais) uma jornada de um pai tentando recuperar seus filhos e se reencontrar, já que passou a valorizar mais o seu trabalho do que os prazeres de desfrutar a vida ao lado de seus filhos e esposa.
Robin Williams está ótimo como Pan, mas quem rouba a cena é Dustin Hoffman. Com um trabalho excepcional da equipe de maquiagem, o ator destila ironia e sarcasmo como o cruel Capitão Gancho, especialmente nos momentos em que existem relógios próximos. Julia Roberts surpreende na pele do vagalume falante Sininho, mesmo que o roteiro trabalhe com uma desnecessária parte em que a fadinha declara o seu amor por Peter Pan. Reparem também na breve participação especial de uma jovem Gwyneth Paltrow em um de seus primeiros trabalhos no cinema.
É preciso reforçar que Hook é uma versão de Peter Pan e não uma adaptação fiel. Ela trabalha mais com a nostalgia ao reconhecer todos aqueles personagens, sejam eles mais velhos (como Wendy, papel de Maggie Smith) ou exatamente como eram originalmente (como o marujo Smee, papel de Bob Hoskins). Peter Banning (Williams) cresceu e virou um homem de negócios, se esquecendo completamente de que um dia ele fora o jovem Peter Pan, da Terra do Nunca. Depois de uma discussão com seus filhos, Banning vai para um evento e quando volta para casa descobre que as crianças desapareceram. A única pista é uma carta presa na porta dizendo que ele deveria voltar para a Terra do Nunca para lutar contra o Capitão Gancho e recuperar seus filhos. A fada Sininho (Julia Roberts) surge para levar Banning de volta para o lugar onde passou boa parte de sua vida para o duelo final contra o seu inimigo, mas antes disso, ele precisará lembrar das coisas boas da vida e de quem ele realmente é.
Outra característica formidável no cinema de Spielberg é a capacidade assustadora do diretor em arrancar lágrimas dos espectadores. O comparsa John Williams (compositor) sempre representa um papel importante nessa tarefa “sacana” de fazer o espectador que não se emocionar se sentir mal, como se fosse um humano insensível e frio. Em Hook – A Volta do Capitão Gancho não é diferente. Eu quero ver quem é capaz de não ficar emocionado quando Pan retorna e entrega as bolinhas de gude para o velho Tootles (Arthur Malet). Embora force a barra em algumas obras, como em A Lista de Schindler, na maioria das vezes tudo é feito de uma maneira envolvente, natural e arrebatadora, o que sempre faz cada um dos filmes de Spielberg ser uma experiência única.
Para quem nunca teve o prazer, e para quem quase se esqueceu, fica aqui uma recomendação digna no Cinema de Buteco. Tire um tempinho na sua tarde de domingo, se acomode na cama (ou no sofá), pegue a cerveja mais gelada que estiver disponível (desde que ela desça redondo…), prepare a pipoca e se deixe levar pelo mundo de fantasia da Terra do Nunca. Depois das duas horas e meia de filme, aposto que você se sentirá uma pessoa melhor. Ou eu ficarei batendo palmas aqui até isso acontecer.
ps: não me deixe com as mãos dormentes, por favor.
Nota:[quatro]