A Outra História Americana

A Outra Historia Americana Edward Norton

A OUTRA HISTÓRIA AMERICANA ABORDA TEMAS FORTES COMO O RACISMO, NEO-NAZISMO E XENOFOBIA, o que coloca a produção dirigida por Tony Kaye bem distante daqueles filmes indicados para serem vistos numa tarde ensolarada de domingo com a família. Com uma atuação inspirada do seu elenco, inclusive com direito a uma indicacão ao Oscar de Melhor Ator para Edward Norton (que viria a perder para Roberto Benigni, em A Vida é Bela), os diálogos fortes e reflexivos ajudam a elevar a qualidade do produto, que está em diversas listas de Melhores Filmes de Todos os Tempos, como os 500 Mais da revista Empire.

Derek (Norton) está transando feliz da vida com a sua namorada. Quem não está muito contente é o jovem Dan (Edward Furlong), que é impedido de dormir por causa da barulheira infernal que vem do quarto do idolatrado irmão neo-nazista. Do lado de fora da casa, três jovens tentam arrombar o carro de Derek, que, para o azar do trio, descobre o que está acontecendo e vai tomar satisfação de uma maneira extremamente agressiva. A gente até entende o lado do rapaz: ninguém gosta de ser interrompido durante o sexo, mas acontece que o cara tem uma suástica nazista tatuada no peito, é extremamente racista, e os três assaltantes eram negros.

Derek, que era o modelo de homem de Dan, já que ambos são orfãos, vai preso e deixa o irmão sozinho para encarar a vida. O jovem Dan se envolve no mesmo grupo neo-nazista e começa a ter problemas na escola, até o dia em que Derek sai da prisão como um homem completamente diferente. A trama é centrada na vida de Dan e Derek, e aborda as transformações que esses personagens passam e suas motivações para entrarem no grupo violento e agressivo liderado por Cameron (Stacy Keach).

A Outra Historia Americana Edward Furlong

A narrativa não segue uma ordem cronológica, e diversos momentos são retratados em preto e branco. Segundo o crítico Eduardo Monteiro, do Cinema sem Erros, essas mudanças nas cores sevem para mostrar o conflito do certo e o errado. O passado de Derek sempre é apresentado em preto e branco, como se aquilo fosse uma mancha escura na sua realidade, enquanto o presente recebe cores vivas para deixar claro que ele não é mais aquele homem. Como Dan é o narrador, a história é baseada no seu próprio ponto de vista sobre o irmão e a realidade em que vive (onde apenas os brancos parecem merecer lugar no planeta).

Ao mesmo tempo que os dois irmãos aparentam ser fortes e inteligentes, demonstram uma incrível fragilidade psicológica e são facilmente manipulados. Um exemplo: há uma cena em que Derek, ainda um jovem, está contando empolgado sobre como se sentiu instigado a estudar pelo seu novo professor. O pai de Derek (um homem sem muita instrução e preconceituoso) o questiona com um discurso campestre, mas que é o suficiente para modificar a opinião inicial do primogênito. Oras, anos depois, Derek seria novamente manipulado por Cameron e se tornaria um neo-nazista babaca. E finalmente, mudaria de ideia após um novo encontro com seu antigo professor e por suas próprias experiências negativas com seu estilo de vida. Dan é a mesma coisa. Cansado de ser apenas o reflexo do irmão, decidiu seguir os mesmos passos. Foi doutrinado por Cameron, mas seu combustível para participar daquela baboseira era apenas o amor e admiração pelo irmão. Tanto, que quando Derek conta suas experiências, ele muda de opinião drasticamente.

A Outra Historia Americana

Além das atuações excepcionais de Furlong e Norton, também se destacam Guy Torry (na pele do prisioneiro engraçadinho Lamont, que vence o mau-humor de Derek no cansaço e oferece momentos raros de humor para o espectador de maneira natural) e Fairuza Balk (que está absolutamente pirada como a namorada nazi de Derek. Ela não é uma boa atriz, ok, mas sua expressão insana é perfeita para o papel).

Muito da tensão do filme está na eficiência dos diálogos do roteiro, mas principalmente nos closes que o diretor insiste em manter em praticamente todas as cenas em que as conversas são mais sérias, como no momento em que Dan discute com o diretor da escola. Como a câmera fica bem no rosto dos atores, o que é mais uma demonstração da confiança que o diretor tinha no seu elenco (e na qualidade dos mesmos, óbvio), o espectador sente toda a pressão da cena. O lendário cineasta italiano Sergio Leone manda lembranças.

A Outra História Americana é o melhor trabalho de Edward Norton no cinema, superando até mesmo o “insuperável” Clube da Luta, de David Fincher. Mesmo com toda a fama de chato, Norton prova que é um dos principais talentos de sua geração e, se fosse o caso do filme ser ruim, teria carregado toda a história nos ombros e agradado tanto a crítica quanto o público, mas acontece que se trata de uma obra incrível e indicada para qualquer um que se interesse em filmes sobre o neo-nazismo, xenofobia e racismo.

Poster American History X

[quatroemeia]