Sabemos que não é nenhuma novidade para o cinema americano histórias de infidelidade, trocas de casais, “wanna be Swingers”, cenas com jogos da verdade, etc. Desde o originalíssimo Quem tem medo de Virginia Woolf? que o cinema em ciclos vem batendo na mesma tecla e entediando o espectador. Ai quando você olha a premissa de Happy Happy você pensa: “lá vem mais uma história de casais frustrados que começam a ter casos extraconjugais…” Minha dica é: permita-se! Você não se arrependerá nem por um minuto!
É inegável que, apesar do tema batido, o debut da norueguesa Anne Sewitsky tem um imenso frescor e exala originalidade. A forma inusitada como a diretora aborda as cenas tem um quê de alegria e insanidade ao mesmo tempo, quase que beirando a esquizofrenia. É o típico drama feito para rir sem culpa, daqueles “Humor Negro” que até a pessoa mais santa do universo poderá se pegar rindo.
O filme conta a história de Kaja, uma dona de casa que vive um casamento frustrado, uma vida medíocre, mas que mesmo assim não deixa nada abalar o seu otimismo. Ela é surpreendida pela chegada de novos vizinhos os quais, de cara, já considera como o casal perfeito. Devido ao seu incansável otimismo e sua carência por ser algo a mais, Kaja decide que ela e seu marido devem se tornar melhores amigos dos novos vizinhos para, sabe-se lá, absorvem alegria e sofisticação por osmose.
E é exatamente em cima dessas interações entre os casais que o filme se faz. As cenas são tensas, constrangedoras, provocativas como em todos os filmes desse tipo. Porém o diferencial de Happy Happy é a sua sutileza nórdica que, me desculpem os mais críticos, não permite em momento nenhum que a obra seja chamada de drama. O filme não só beira a comédia, é muito mais que isso, as cenas são tão escrachadas que não tem como não rir.
Não basta dizer que a esposa de Sigve é fria, tem que mostra-la o tempo todo esnobando ele e fazendo piadas sarcásticas sobre a simplória vizinha. Não basta mostrar que Kaja está afim de Sigve tem que fazê-la sair do banheiro com a calcinha pra fora. Não basta deixar a entender que o marido de Kaja é gay e a câmera tem que dar zoom nele toda vez que ele encara Sigve. Ah, e não esqueçam o mais engraçado de todos, a crítica racial envolvendo as crianças. Quando Theodor pega o filho adotado dos novos vizinhos para brincar de escravo… Sério, não tem como não rir do molequinho se aproveitando do outro… O humor é tão negro que se colocado em palavras você até se sente culpado por ter rido daquilo, mas na hora não tem como fugir.
Assim é Happy Happy, tão dramático quanto uma gata no cio, tão sutil como um elefante, mas ainda assim originalíssimo e hilariante. Um dos grandes méritos do filme é sua continuidade; não tem enrolação no roteiro, o filme é rápido e direto, as coisas acontecem muito freneticamente, e uma das coisas que permitem você notar isso é a cronologia dada pelos ensaios do grupo de canto que se prepara para o Natal. E por falar em canto, que ótimo insight o de colocar o quarteto cantando folks e canções natalinas entre as cenas, mas uma delícia que só Happy Happy vai te proporcionar. Outro mérito vai para a incrível interpretação de Agnes Kittelsen que dá a Kaja um misto de carência, insanidade, alegria e estabanação fazendo com que sua personagem realmente cative o espectador.
O filme que tem a cena mais constrangedora de sexo na neve já vista no cinema ganhou o Sundance de melhor filme estrangeiro, esteve no Festival do Rio, e prova que a verdadeira felicidade está nas bizarrices e ironias da vida… Por isso sejamos esquizofrênicos!
Nome Original: Sykt lykkelig
Direção: Anne Sewitsky
Produção: Synnøve Hørsdal
Roteiro: Ragnhild Tronvoll
Elenco: Agnes Kittelsen
Henrik Rafaelsen
Joachim Rafaelsen
Maibritt Saerens
Oskar Hernæs Brandsø
Ram Shihab Ebedy
Lançamento: Set/2011