(Blood Simple) De Joel e Ethan Cohen. Com Frances McDormand, John Getz, Dan Hedaya, M. Emmet Walsh.
Marty (Dan Hedaya) desconfia que sua mulher, Abby (Frances McDormand) tem um caso com um de seus empregados, Ray (John Getz). Quando contrata um detetive (M. Emmet Walsh) e acaba descobrindo que a traição de fato existe, ele decide então encomendar a morte de ambos. Esta é a sinopse inicial de Gosto de Sangue, primeiro filme dos Irmãos Cohen (dos recentes Onde os Fracos não tem vez e Queime depois de ler), que quando lançado causou furor e arrebatou prêmios mostrando que cinema independente também tem seu lugar na indústria (afinal o filme foi sucesso de bilheteria).
As características dos Cohen já estão lá: personagens que agem por impulso, mesmo que não estejam preparados psicologicamente para isso; histórias onde alguma coisa sempre dá errado; um quebra cabeças que para a má sorte dos personagens nunca se encaixa da forma como deveria. No caso de Gosto de Sangue, a suspeita que todos temos do outro é o que desencadeia a seqüência de acontecimentos que termina de uma forma inesperada.
O fato é que existe um tema central no filmes dos Cohen, e isto já é percebido aqui: a desconfiança, a solidão do homem já que todos aqueles que estão a sua volta (mesmo a mulher com quem se dorme ou o detetive com quem se faz confidências) são seus possíveis algozes. Só o que se pode fazer é tomar as providências que estão ao seu alcance. As conseqüências disso nunca são como se tinha programado.
Gosto de Sangue é além disso tudo, um filme perfeito quando trata de suspense: há sempre coisas por acontecer, e se o ritmo inicial do filme é um pouco lento (outra característica da dupla de realizadores) é pra antecipar a tensão ininterrupta que virá. E embora o espectador saiba de toda a situação, da qual os personagens só sabem aquilo que julgam saber, ficamos surpresos com as reações que eles têm, sempre impulsivas, e por isso mesmo extremas.
O elenco é muito bem escolhido, com destaque para Frances McDormand. Nunca conseguimos julgá-la por sua traição, e a força que mostra possuir nos momentos finais é surpreendente. E como era bonita não? Justifica-se sua parceria recorrente com os diretores.
Contando com uma edição também muito interessante (como na cena da secretária eletrônica que se funde com o dedo na poça de sangue), que por acaso também ficou à cargo dos Cohen, embora tenham usado um pseudônimo para isso (normal dos dois também), e com uma trilha sonora na maioria das vezes nula, ou que conta apenas com os sons do ambiente para demonstrar a solidão daquelas pessoas no deserto do Texas, o conjunto da obra é perfeito, e me arrisco a dizer, que é o melhor filme dos Cohen que eu já vi.
No final do filme (reparem na inventividade da cena: a imagem final que o detetive terá é a mesma que teremos também), irônico ao extremo, temos a sensação de que os Cohen tinham a plena certeza de que realizaram um filme excepcional. E eles tem razão. “Bom senhora, se eu encontrar com ele dou o recado!”. Putz! Sensacional!