O CINEMA DE BUTECO ADVERTE: A crítica do filme Good Boy possui spoilers e deverá ser apreciada com moderação.
OS INFLUENCIADORES QUE CONSOMEM SÉRIES SEM PARAR, mas reclamam de filmes com mais de duas horas de duração agora possuem uma obra para atender seus imediatismos. Com pouco mais de 70 minutos, Good Boy (Viljar Bøe, 2023) é um belo exemplar do gênero terror e comprova que dá para contar uma boa história, independente do tempo de duração.
Quando você tem uma boa história e uma pessoa competente na direção, o tempo é subjetivo. Dependendo dos seus objetivos e para onde você quer levar a sua história, dá para fazer bastante coisa em menos tempo. Inclusive, fica até uma aula para os produtores de filmes de terror norte-americanos. Em muitos casos, a narrativa enrola e investe tempo desnecessário com cenas que não levam a lugar algum. Good Boy é objetivo. Não se permite perder tempo com o que não interessa e consegue surpreender o espectador mesmo assim.
Os primeiros minutos da obra apresentam o protagonista Christian (Gard Løkke) alimentando o seu cachorro de estimação. A questão é que não se trata necessariamente de um cão, mas sim de um homem com uma fantasia de cachorro. A situação surreal causa estranhamento, e risadas nervosas, já que não sabemos para onde a narrativa vai caminhar. Christian marca um encontro no Tinder com uma jovem e quando ela chega na sua casa, fica completamente desconcertada com o animal de estimação.
Após um período de reflexão, a garota aceita a loucura do rapaz. Talvez convencida pelo fato do cara ser um multimilionário e tal. Gente rica é esquisita. Eles comem caviar. Por que não ter um homem vestido como cachorro para ser o animal de estimação? Perfeitamente normal, né?
O casal vive toda aquela paixão de um começo de relacionamento, em que o último lugar em que decidem transar é a cama. Tudo é lindo e maravilhoso. Sigrid (Katrine Lovise Øpstad Fredriksen) sente como se fosse a mulher mais sortuda do mundo e aproveita para se jogar no momento. Quando Christian propõe deles viajarem juntos, incluindo o cachorro, ela topa rapidamente. Independente do pouco tempo que conhece o sujeito.
A partir dessa viagem, a trama se transforma.
Bøe acerta em cheio na apresentação e apresentação do contexto dos personagens. É necessário para a gente se aproximar de cada um deles e entender quem é Sigrid, Christian e Frank, o cachorro. Não fossem as idas e vindas, as revelações dos minutos finais teriam menos força e impacto.
Logo na primeira noite da viagem, Sigrid descobre que Frank fala. O que ele diz a deixa aterrorizada e totalmente sem reação. Nesse ponto, Good Boy deixa de ser um romance esquisito para se tornar um sufocante filme de suspense. Christian se revela como um maníaco psicótico e controlador, capaz de qualquer coisa para ver seus desejos realizados.
Ainda que existam muitas perguntas no ar, as respostas são menos importantes que a qualidade da narrativa. Aqui entra a suspensão da descrença, já que seria uma perda de tempo tentar justificar as atitudes de Christian ou mesmo as possíveis consequências das suas ações. É mais interessante acompanhar a mensagem crítica em relação aos perigos de relacionamentos fugazes através de um match no Tinder. Assim como o recente Fresh, Good Boy acerta em cheio como um filme essencial para todos os usuários de apps de relacionamento.
Good Boy está disponível no serviço de streaming Looke. Agradecemos à assessoria que gentilmente cedeu um acesso de imprensa para o Cinema de Buteco.