Fuga de Nova York


OS ANOS OITENTA FORAM CARACTERIZADOS POR UM CINEMA POUCO REALISTA. Várias ótimas obras vieram desse período, como Indiana Jones, Máquina Mortífera, Duro de Matar e vários outros. Fuga de Nova York, porém, certamente não está nesta lista.

Os Estados Unidos enfrentam uma onda de violência e a cidade de Nova York se torna uma prisão de segurança máxima. Entretanto, em seu interior não há policiamento — os criminosos são apenas jogados lá dentro e impossibilitados de fugirem. Quando o avião do presidente é derrubado por grupos terroristas e cai no presídio — e o presidente surpreendentemente sobrevive dentro de uma cápsula de segurança, algo tão absurdo quanto a cena da geladeira em Indiana Jones 4 — o chefe da penitenciária, Bob Hauk (Lee Van Cleef, de Três Homens em Conflito) oferece anistia ao herói de guerra Snake Plissken (Kurt Russell) caso ele consiga resgatá-lo em 22 horas, pois em sua posse estava uma fita que seria executada em um encontro internacional com duração restante equivalente a tal prazo (eles não poderiam fazer uma cópia da porcaria da fita?) Snake aceita a proposta, mas Hauk aplica-lhe uma injeção com explosivos, que o matarão em 22h e que só podem ser desativados pela polícia.

Kurt Russell faz um personagem durão que permanece rouco durante o filme inteiro — uma espécie de Batman misturado com Dirty Harry — o que é extremamente cansativo e desnecessário. Mesmo com alguma coisa na garganta (um pinto de borracha, vai saber) Russell ainda é o único ponto bom da obra, pois o personagem dele é extremamente arrogante e rabugento, o que rende alguns bons momentos no filme. Snake, por exemplo, aparentemente não se importa com quase nada e faz certas coisas que podem ter consequências catastróficas, movido apenas por uma vingança pessoal.

A fotografia do filme é muito escura, possivelmente com a ideia de demonstrar o caos de Nova York, mas esse recurso não funciona e ainda por cima é consideravelmente prejudicial. Em diversos momentos, afinal, torna-se praticamente impossível enxergar o que está na tela.

O filme abusa de certos clichês que são ofensivos, como o do vilão que está no ambiente e só é percebido quando começa a falar, e o de um som agudo alto quando aparece algum elemento surpresa na tela. Outra coisa problemática no filme são certos absurdos como o carro que passa por cima de uma mina e mata uma pessoa, porém, as outras pessoas do carro saem ilesas. O roteiro é bem simples e parte de uma premissa absurda como justificativa para ter algumas cenas de ação que sequer são boas. A geografia das cenas é incrivelmente falha e frequentemente você não sabe onde os personagens se encontram.

Fuga de Nova York é uma desagradável experiência com péssimos diálogos, péssimas cenas de ação e um péssimo enredo. O filme só não se torna um completo desastre por conta de seu personagem principal, que é consideravelmente carismático, não se importa com praticamente nada ao seu redor e por isso é uma figura tão interessante, mesmo que a atuação de Russell falhe em alguns aspectos.

Título original: Escape From New York
Direção: John Carpenter 
Produção: Larry J. Franco, Debra Hill
Roteiro: John Carpenter, Nick Castle
Elenco: Kurt Russell, Lee Van Cleef, Ernest Borgnine
Lançamento: 1981
Nota:[duas]