Fuga de Los Angeles

OS CABELOS MUDARAM, AS RUGAS SURGIRAM, mas a voz rouca inconfundível permanece. Outra coisa que Fuga de Los Angeles tem em comum com sua primeira parte é o fato de Kurt Russell e seu amigo John Carpenter novamente investirem nas mesmas fórmulas que transformaram aquele filme em um clássico para muitos cinéfilos e uma verdadeira cerveja quente (e sem álcool) para tantos outros, como é o meu caso. E do nosso querido João Golin, que escreveu isto aqui sobre o primeiro filme.

Desta vez, Snake Plissken (Russell) terá que lidar com uma missão suicida em Los Angeles, no ano de 2013. Diga-se de passagem, a visão futurista de Carpenter está bem distante de nossa realidade. O governo norte-americano envia o mercenário que foi colega de Bruce Wayne nas aulas de dicção da escola para recuperar um artefato nuclear e impedir que um terrorista destrua o que restou dos EUA.

Dentre os atores coadjuvantes, Steve Buscemi merece atenção especial – ainda que interprete o mesmo personagem que o público ficou acostumado a ver em tantas outras produções. Com um humor rasteiro, Buscemi é um oportunista que tenta ficar sempre do lado do “time que está vencendo”. Em uma cena memorável, Snake está surfando junto com o doidão do Peter Fonda e as ondas o arremessam direto para cima do carro vermelho de cafetão do personagem de Buscemi. Aliás, os efeitos especiais desta sequência nos fazem ficar curiosos com qual seria a intenção de Carpenter com coisas tão toscas assim. Bruce Campbell (Uma Noite Alucinante) faz uma participação especial como um médico cirurgião perturbado, mas está praticamente irreconhecível.

Destaque para a sequência do jogo do basquete da morte. Claro que todo mundo sabia muito bem o desfecho da cena, mas a atmosfera tensa gerou uma expectativa forte, o que acaba sendo bem positivo. É inusitada a comparação do ditador em uma espécie de Rei romano, com a quadra se transformando na arena em que os gladiadores (jogadores de basquete) lutam contra o inimigo (o tempo) para conseguirem se manter vivos.

Como é de costume nos filmes de Carpenter, a trilha sonora é de qualidade. Mesmo para quem ficou frustrado quando aceitou que não teria nenhuma canção do Rage Against the Machine no filme (como assim um filme sobre Los Angeles sem o RATM? Pô, Carpenter!), a recompensa veio com o timbre inconfundível da banda Tool, com a música “Sweat“.

Talvez Fuga de Los Angeles seja um exemplo de produção refinada demais para um paladar tão estranho (e estragado) quanto o meu, pois em momento algum fui cativado pelo visual trash e toda a tosqueira dos efeitos visuais desenvolvidos pela equipe criativa de Carpenter. As limitações visuais são propositais, quem sabe como uma maneira de homenagear os clássicos do cinema de ação e aventura dos primórdios, mas tudo isso acaba sendo um belo tiro pela culatra. Pelo menos, na minha singela, humilde, e embriagada opinião.

Nota:[duas]