por Kelson Douglas, editor-chefe do site Altamente Ácido
TAL COMO UMA BONECA RUSSA, a filmografia de Christopher Nolan pode ser observada de trás pra frente, apresentando camadas e um leve estilo, que mesmo constante não deixa de fascinar. Following é a primeira (ou última, dependendo do ponto de observação) e menor matrioshka de todas.
Lançado no final da década de noventa e ignorado até hoje pelas distribuidoras nacionais, o longa escrito, dirigido, filmado e editado por Nolan expõe o cotidiano de um jovem escritor (Jeremy Theobald) que segue pessoas aleatoriamente pelas ruas de Londres em busca de inspiração para seu trabalho. A coisa começa a desandar para ele assim que ele conhece Cobb (Alex Haw), um sujeito bem apessoado e intimidante que lhe apresenta uma nova e arriscada aplicação para sua estranha mania.
Rodado em 16 mm e em preto e branco, o inventivo Following é uma espécie de noir, no qual há a loira fatal (Lucy Russel), o submundo, cafés e cigarros. Tudo com toques de análise psicológica, algo sempre presente na carreira do diretor. Como demonstrou desde seu primeiro trabalho, o curta Doodlebug (em que Theobald surgiu como protagonista), e em projetos seguintes, como Amnésia, Insônia, A Origem e mesmo Batman – O Cavaleiro das Trevas, Christopher Nolan sente fascínio pelos segredos da mente humana, e gosta de inserir reviravoltas pontuais em suas tramas, o que fazem com que a audiência se desloque da linearidade.
Outra assinatura do diretor é o uso de trilha sonora para criar uma aura de alerta e movimentação durante a projeção. Em Following, Nolan contou com David Julyan, um cara que começou junto com ele, mas que acabou sendo substituído mais tarde por Hans Zimmer. As composições de Julyan são constantes e perceptíveis o suficiente para que gere certo incômodo na audiência. Um belo truque, aliás.
Com pouco mais de uma hora de duração, Folllowing é uma espécie de achado que segue a lógica de seu criador: esteve aí o tempo todo, mesmo que você não tenha visto
Nota:[quatro]