Texto por Matheus Abade
Você acabou de entrar no Cinema de Buteco para ler essa crítica. Você poderia estar fazendo qualquer outra coisa na internet, mas resolveu tirar alguns minutos do seu tempo e ler esse texto. Agora.
E se essa decisão mudar sua vida? E se o fato de você estar lendo isso impactar suas próximas decisões? E se por estar lendo essas palavras agora você está perdendo uma chance de sair com o amor da sua vida? E se ler isso aqui agora estiver salvando a sua vida?
Saber as respostas para essas perguntas é o ponto chave de Mr. Nobody, e muito mais.
Logo no começo, o filme mostra através da “superstição dos pombos” que nós buscamos muito sentido na aleatoriedade do mundo. Servindo para mostrar o quanto o acaso interfere nas nossas vidas e como tentamos dar um significado para ele. Após essa introdução, conhecemos Nemo.
Nemo(Jared Leto) é um velho em um futuro não muito distante. Ele é o último mortal em um mundo onde os humanos se tornaram imortais, mas o filme não é apenas uma distopia, Nemo também é um adulto ou uma criança, dependendo do momento atual do filme e qual timeline ele quer mostrar. Mas uma coisa fica clara: ele possui um dom, o poder de perceber todos os caminhos que suas decisões podem levar, e diante desse conhecimento, como ele poderia escolher algo? Como ele poderia tomar qualquer decisão sabendo para onde aquilo o levaria na vida?
Principalmente, como ele poderia escolher entre seu pai e sua mãe? Ou Como ele poderia escolher entre a menina de amarelo, a de azul e a de vermelho?
“Enquanto você não escolher, tudo continua possível.”
Mas Nemo sabe onde suas escolhas vão o levar. Jean, a menina de amarelo vai leva-lo para uma vida de ganância, vazia, sem emoções. Elise, a menina de azul irá leva-la para a depressão de sua vida, com uma família, mas sem nenhuma felicidade em sua esposa. E com Anna, a menina de vermelho, ele vai encontrar seu amor.
Em uma viagem pelas memórias de Nemo vamos juntando os pedaços de sua infância e adolescência e vendo como cada escolha que ele toma em cada situação e como uma ação ou uma palavra dita ou não dita podem mudar completamente o seu futuro.
O Nemo adulto também nos mostra como o acaso e suas decisões moldam sua vida, e moldam tudo ao seu redor, como ligamos nosso futuro ao nosso passado, mesmo sem perceber. E como tudo está intimamente ligado, e nossa vida não é só o presente.
Estamos tão presos e focados no presente que nunca pensamos que passado, presente e futuro estão intimamente ligados, estão tão conectados que sem futuro não há passado e muito menos presente. Não percebemos que a nossa vida não é uma linha reta, mas um círculo, que pode começar no futuro, no passado ou no presente, pode começar no final, pode começar no meio. Cheio de pessoas, decisões e timelines diferentes.
É claro que o número de pessoas e possibilidades que passam pelas nossas vidas são muito maiores que as do filme, mas seria completamente impossível de fazer um filme mostrando tudo isso de uma vida. O modo como o filme escolhe e simplifica esses momentos o torna poético, nos mostrando em belas imagens tudo que o diretor Jaco Van Dormael quis nos dizer sobre as escolhas e o acaso de nossas vidas.
E para completar a poesia, no final, Nemo idoso quer voltar, quer que o universo se contraia, quer voltar no tempo, para que possa voltar a ver Anna naquele momento que ela disse: “Eu renunciei todas as minhas possíveis vidas, por apenas uma com você”.