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DETERMINADAS OBRAS SÃO TOCANTES SEM PRECISAR DE MUITAS FIRULAS CINEMATOGRÁFICAS. Basta ter um diretor eficiente, um roteiro inteligente, um elenco inspirado, uma trilha sonora discreta e uma montagem capaz de acompanhar o ritmo com que a narrativa se desenvolve. Spotlight – Segredos Revelados (Spotlight) possui todas essas características e parece ter sido o bastante para conquistar a atenção da crítica especializada ao redor do mundo.
Os tais “filmes do Oscar” sempre se destacam por terem algo especial acima dos demais. É curioso notar que fora o trabalho excepcional do elenco, não há absolutamente mais nada que esteja fora dos padrões de qualquer outra obra. Spotlight é normal. E isso não diminui a sua qualidade, mas nos deixa curiosos pensando no que torna essa obra especial. Então, fora o óbvio já levantado no parágrafo anterior, podemos imaginar que quando o cineasta Tom McCarthy consegue nos fazer torcer pelo sucesso da investigação jornalística de seus personagens e a prisão dos padres tarados, ele também demonstra pleno domínio da linguagem do cinema e capacidade de nos conquistar aliando sua técnica com o simples ato de contar uma boa história.
O grande mérito do longa-metragem é nos fazer ter a convicção que assistimos a uma história baseada em fatos, como se estivéssemos fazendo parte da investigação e acompanhando de perto o trabalho da equipe. O trabalho excepcional dos roteiristas Josh Singer e Tom McCarthy, que também assina a direção, foi recompensado com uma indicação ao Oscar de Melhor Roteiro Original. Essa sensação é decorrente da nossa consciência de todas as coisas erradas que acontecem envolvendo a Igreja (e nossa revolta em querer resolver logo esse problema) e a narrativa trabalha com esse assunto com uma naturalidade incrível. Ao nos fazer esquecer estamos assistindo a uma ficção, McCarthy tem o seu maior sucesso se tratando de Spotlight.
Para quem não sabe do que se trata, o longa-metragem aborda o dia a dia de uma redação jornalística investigando uma série de supostos casos de abuso sexual de crianças envolvendo grandes sacerdotes da Igreja. Ou seja, McCarthy está falando de um tema pesado e que ainda incomoda muito o público mais conservador que prefere acusar as vítimas do que aceitar que algo assim possa acontecer. Ao longo da trama, diversos pontos são jogados para causar reflexão nos espectadores, como o nosso constante hábito de ignorar coisas pequenas (ou que não parecem interessantes) para depois ter um problema enorme nas mãos e perceber que as coisas poderiam ser diferentes se a nossa atitude fosse outra.
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O trabalho do elenco é de arrepiar. Não me lembro de ter visto Mark Ruffalo numa atuação tão intensa antes em sua carreira. A cena em que ele quebra o pau com o personagem de Michael Keaton quando há um momento em que eles discordam do que deve ser feito é de tirar o fôlego. Aliás, Keaton também se destaca por ser um editor adulto e disposto a se arriscar pensando no que é o certo para se fazer. Rachel McAdams se destaca por não ser uma jornalista dotada apenas de um rostinho bonito. E esse é um ponto importante para se dizer: o roteiro de McCarthy é inteligente ao criar personagens tridimensionais que possuem uma vida fora da redação (genial a preocupação de Matt ao descobrir que um dos padres pedófilos mora há poucos metros de sua casa), mas que são apaixonados/obcecados demais com o trabalho para desviarem a atenção.
Recomendado principalmente para profissionais da comunicação, Spotlight é uma obra cheia de qualidades individuais e que também funciona perfeitamente para um público interessado apenas em apreciar uma boa narrativa. McCarthy domina a arte de contar a sua história e até mesmo nos faz acreditar que estamos assistindo a uma adaptação de algum livro sobre os artigos publicados no jornal. Para conseguir esse efeito você precisa ser competente e ter um bom roteiro em mãos: felizmente, McCarthy tem as duas coisas.