Filme: Sex: Speak (Mostra de São Paulo 2015)

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Se houvesse sido produzido na década de 50, o documentário alemão Sex: Speak seria revolucionário; na de 60, funcionaria como porta-voz dos movimentos de contracultura e liberação sexual que explodiram ao redor do mundo; na de 80, vá lá, alertaria para o processo de regressão que a sociedade ocidental passou a tomar em relação à defesa dos direitos individuais e da busca pela felicidade plena e livre de amarras sociais. Em 2015, porém, o filme só consegue ser óbvio, repetitivo e desinteressante ao falar de sexualidade com a previsibilidade de um panfleto educacional oferecido a pré-adolescentes do Ensino Fundamental.

Escrito e dirigido por Saskia Walker e Ralf Hechelmann, o longa apresenta depoimentos de várias cabeças falantes que, não fazendo o menor esforço para esconder o enorme microfone que seguram (um descuido imperdoável para um documentário profissional), discorrem acerca de suas vidas sexuais, seus relacionamentos amorosos ou meramente físicos, o processo de descoberta das próprias preferências e, obviamente, a maneira como familiares e amigos reagem ao estilo de vida liberado que decidiram adotar, basicamente se esforçando para provar que monogamia e seres humanos não nasceram um pra o outro.

Normalmente, somos atraídos por depoimentos de pessoas que, por uma razão ou outra, tornaram-se autoridades no assunto que se propuseram a discutir (ou então pelo relato de alguém com quem temos algum tipo de relação, seja esta pessoal ou apenas de admiração a distância, como no caso de um ídolo ou uma figura pública qualquer) – e é este o primeiro problema de Sex: Speak: quem são aqueles homens e mulheres revelando seus segredos sexuais diante das câmeras? Por que deveríamos dar peso ao que dizem sobre isso ou aquilo? Ou ainda, o que há de novo em sua interpretação de como funciona nosso cérebro e nosso corpo durante o processo de conquista e concretização sexual?

Cheio de reflexões do tipo “Sexo é natural”, “sexo melhora a vida das pessoas” e “no Facebook é mais fácil, mas também tem menos contato” (cê jura?), o doc ainda consegue contradizer-se ao incluir vários depoimentos de uma jovem que se diz ser a mais esclarecida entre suas amigas desde a infância apenas para mostrá-la dizer que “sempre foi doidinha” (uma falha absurda que qualquer cineasta minimamente competente que estivesse dirigindo o mesmíssimo filme corrigiria deixando a frase no chão da sala de montagem) – o que só não é pior que a filosofia de mesa de bar de um sujeito que afirma, como se fosse a descoberta científica mais importante do nosso milênio, que “um peido feliz nunca sai de um cu miserável”.

Mas o longa só ultrapassa mesmo o limite do suportável ao ter a brilhante ideia de incluir uma série de depoimentos de uma criança de cerca de onze anos de idade que, como não poderia deixar de ser (ainda bem), não faz a menor ideia do que está dizendo, levando o projeto a atingir o fundo do poço (e a culpa, repito, é dos realizadores, e não do garoto; ainda que seus pais precisem urgentemente chamá-lo para uma conversinha) no momento em que declara que a menina que quiser ser sua parceira um dia “tem que ser atraente; numa escala de 1 a 10, tem que ser no mínimo 8” (!!!).

A julgar por esse tipo de decisão tomada por Walker e Hechelmann, não duvidaria nem um pouco se descobrisse que eles também estão na puberdade.

Nem vou arriscar digitar seus nomes no Google.

Sex: Speak (Sprache: Sex, Alemanha, 2015). Escrito e dirigido por Saskia Walker e Ralf Hechelmann.