Belo nome para uma banda: Ricki And The Flash (Ricki And The Flash – De Volta Pra Casa, 2015). E um belo elenco para estrelar a história de uma mãe que larga a família para realizar o seu sonho e décadas depois retorna quando a filha entra em depressão. Apesar de uma Meryl Streep excelente e uma trilha sonora muito bem selecionada, o musical tem cantoria demais e conteúdo de menos. Por mais que seja uma ótima atração para quem busca um filme leve para ver no cinema, ele não encanta.
Linda/Ricki (Streep) é a vocalista e guitarrista de uma pequena banda de rock de Los Angeles (ela trabalha de dia como caixa de supermercado), a qual deixou a família para seguir seu sonho. Esta inclui um agora ex-marido, Pete (Kevin Cline), Julie (Mamie Gummer) e os filhos Joshua (Sebastian Stan) e Adam (Nick Westrate). Porém, após anos longe deles, a mulher precisa retornar para casa quando Julie divorcia e passa por uma série crise. Como de se esperar, a volta não é nem um pouco amigável.
Posso ter sido dura no primeiro parágrafo, mas se o roteiro de Diablo Cody tivesse reduzido um pouco as cenas com música e aumentado os diálogos e drama, teríamos um resultado mais completo e profundo. A primeira metade da produção cativa e nos envolve com a história, mas parece que, depois disso, o enredo acelerou e esqueceu de desenvolver os outros personagens e seus conflitos. A transformação de Julie, inicialmente revoltada, deprimida e até suicida, é extremamente rápida e é difícil de acreditar que a mãe, um grande tempo afastada, tenha conseguido fazer isso; não cola. Quem dera se o mundo fosse simples assim…
Os coadjuvantes do longa de Jonathan Demme também são um pouco esquecidos. Nunca temos detalhes satisfatórios sobre o ex-marido de Ricki, os outros dois filhos aparecem, literalmente, em dois momentos – a noiva de um deles tem uma expressão extremamente irritante -, e o simpático bartender do bar onde a banda da protagonista toca, Daniel (Ben Platt), não teve o espaço merecido. E olha que ele pede atenção viu, você quase que grita “Mais diálogos com Daniel, por favor!”.
A relação de Ricki com o guitarrista Greg (Rick Springfield) é bastante fofa, por outro lado. As cenas deles são bem comoventes e a química dos atores é convincente. Talvez este seja o único núcleo bem desenvolvido do enredo, não tive nenhuma sensação de vazio em relação ao casal.
Enfim, de maneira geral, o conteúdo é extremamente superficial e essas pessoas têm uma conexão direta com a personagem principal; por que não exploraram isso? O jantar conturbado que têm em família foi legal para vermos as questões que possuem entre si. A conversa da protagonista com Maureen (Auda McDonald), mulher que criou a família dela depois de sua partida, também é uma parte feliz na produção. Mas o restante deixa bastante a desejar.
Em relação à trilha sonora, fãs de rock americano vão se esbaldar. O grupo de Ricki inclui em sua setlist Tom Petty, Bruce Springsteen e até mesmo ídolos pop como Lady Gaga e Pink. Sim, Streep canta “Bad Romance” em um momento; imperdível! O único problema com as partes musicais é que elas são demais e, em alguns momentos, teria sido mais interessante ter aproveitado o tempo para outros diálogos. Ainda mais porque o déficit de conteúdo dos papéis coadjuvantes é enorme.
Ricki And The Flash tem uma Streep mais uma vez inspirada e divertida, músicas boas e um grande elenco. O roteiro tem diversas falhas de desenvolvimento e não explora a fundo grande parte das questões que sugere discutir, além de um final mega clichê, mas assisti-lo sem nenhuma expectativa pode não ser tão ruim assim. Você não vai se lembrar do filme daqui a um mês ou possivelmente menos, só que, enquanto no cinema, pode ter uma boa distração momentânea.