Quando vi o trailer de Ponte Aérea (Brasil, 2015), gostei da direção de arte, da história e do elenco. Por mais clichê que seja uma história de amor entre opostos, os quais se conhecem por acaso, o filme de Júlia Rezende tem algo a mais. Não sei dizer ao certo se o que mais gostei foi a química de Caio Blat e Letícia Colin ou a narrativa bem conduzida e apresentada visualmente; só sei que eu gostei e muito.
Resumindo, após um voo cancelado, Bruno (Blat) e Amanda (Colin) ficam no mesmo hotel em Belo Horizonte, cidade em que ambos são completos peixes fora d’água: ele é do Rio de Janeiro e ela de São Paulo. Sozinhos e sem internet, ambos acabam se envolvendo e passam a noite juntos. A conexão é tão forte que, a partir daí, o casal vive praticamente em uma ponte aérea Rio-Sampa. Desafios na agência paulistana e o estado de saúde do pai de Bruno ainda entram no meio desse relacionamento, que pode ou não sobreviver a tantas transformações.
Tudo acontece muito rápido no roteiro; às vezes tão rápido que você questiona como é possível tanta coisa acontecer em pouco tempo. Temos um vai e volta de avião e carro o tempo todo, Bruno passa por profundas mudanças em sua vida pessoal e profissional, Amanda vira diretora de arte na agência, então, é quase impossível que o romance entre ambos não seja afetado por isso. Apesar disso, não deixa de ser uma história real sobre amor e, convenhamos, esse sentimento vem de várias formas, não escolhemos como e quando.
A produção de Rezende ganha pontos por desenvolver a afinidade e atração entre os protagonistas intensivamente e sinceramente. As cenas de sexo são bastantes picantes e os beijos são doces – em uma tomada, o personagem de Bruno está com frio e Amanda o enfia debaixo de sua blusa e eles se beijam -, o que definitivamente ajuda a nos convencer daquilo tudo. Isso é básico em qualquer filme do gênero: se os apaixonados nos conquistam, 50% do longa está aprovado; o resto fica a cargo do enredo.
Bom, vamos por partes. O conteúdo peca em nos dar pouco background da vida da jovem, pois apenas sabemos da sua carreira bem-sucedida em São Paulo, que ela tem um cliente exigente e uma irmã em Curitiba. Enquanto isso, o rapaz é dono de um albergue na capital carioca, tem como hobby a arte e um pai doente, com o qual tem uma relação extremamente ruim (a mãe é um mistério). Faltou um maior aprofundamento nela, que fosse além da publicitária workaholic, rica e que se apaixona pelo seu oposto. A performance de Colin é impecável, mas não preenche esse vazio que sentimos em relação à Amanda. Eu também achei que o talento artístico de Bruno serviria de inspiração para ela, mas o roteiro nunca explorou isso direito.
Outro ponto que o filme deixa a desejar é no conflito e como ele se desenrola nos últimos minutos. Sabemos desde o início que a ponte aérea iria se desgastar um dia e os problemas familiares de Bruno afetariam os dois, mas como isso resultou lá na frente foi bem clichê. Foram as típicas cenas de novela e longas do gênero, as quais já cansamos de ver.
No entanto, essas falhas não afetam a película a ponto de você não querer vê-la ou se decepcionar no fim. Acompanhar a jornada dos personagens principais é uma delícia e ela mostra como o relacionamento afeta os dois lados, ou seja, o filme atrai tanto o público feminino quanto o masculino. Claro que adolescentes e jovens adultos vão se sentir mais conectados à história em função da juventude dos personagens e suas imaturidades, mas ela faz uma discussão sobre relacionamentos que pode agradar qualquer um, de qualquer idade ou classe social. Afinal, namoro ou casamento a distância é ou já foi realidade pra muita gente e essas pessoas vão se identificar com os desafios mostrados. Não preciso nem falar sobre pessoas que também tiveram suas vidas afetadas completamente após conhecerem alguém…ou preciso?
Rezende ainda aproveita o espaço que tem para introduzir a era digital na rotina de Bruno e Amanda. Em uma cena, por exemplo, o cara está em um bar com as amigos e todos, menos um deles, estão no celular. Realidade hoje em dia, fato. Pequenas coisas que nos fazem nos identificar com a história e nos envolver com o que é inserido no enredo.
Ponte Aérea não é uma história original e tem seus clichês. Por outro lado, tem Blat e Colin, atores que estão convincentes e têm uma química excepcional. Junte isso a uma narrativa divertida, sincera, com a dosagem certa de drama e romance e temos como resultado um romance cativante.