O CRÍTICO ROGER EBERT RESUMIU OS VIGARISTAS (Matchstick Men, 2003) sabiamente em três filmes em apenas um. Temos três histórias muito bem conduzidas pelo sempre talentoso (ok, quase sempre) Ridley Scott, que pegou uma obra mais leve depois de encarar dois desafios gigantes em Gladiador e Falcão Negro em Perigo. Vale dizer que dois anos depois, ele comandaria Cruzada.
Os Vigaristas (não confundir com aquela divertida comédia com a Jessica Biel, Mark Ruffalo e Adrien Brody) é um filme sobre um homem a beira de um ataque de nervos por causa do seu TOC. Também é uma produção sobre um homem adulto que inicia a terapia e tenta se reaproximar da filha adolescente que nunca conheceu e passa pelos desafios da responsabilidade de servir de exemplo para um filho. Por último, é sobre esse cara com TOC que se reaproxima da filha que nunca viu, mas precisa conciliar a sua vida pessoal com o seu trabalho: enganar pessoas inocentes aplicando golpes financeiros.
Se tivesse usado o mesmo montador de Falcão Negro em Perigo (indicado ao Oscar, veja bem), eu faria uma aposta pessoal que a genialidade do roteiro e a narrativa leve de Scott ficariam comprometidas. Dody Dorn parece menos preocupado em chamar a atenção para a sua montagem (algo que só acontece nos minutos iniciais para funcionar como recurso para o espectador entender a confusão mental vivida pelo protagonista) e faz o básico bem feito.
Para quem está acostumado a ver Nicolas Cage apenas em produções duvidosas e em atuações alucinadas, Os Vigaristas pode ser uma surpresa. Quem já acompanha e admira o ator desde a época em que venceu o Oscar por Despedida em Las Vegas (que ganha uma espécie de referência quando o personagem entra numa farmácia alucinado atrás do seu remédio) sabe do seu potencial e que o ator simplesmente é maluco de verdade. Por trás dessa loucura se esconde um excelente profissional. Se fosse o contrário, o longa-metragem não funcionaria, já que as três tramas que formam a narrativa dependem demais do talento do protagonista para funcionarem. Ao lado dele, Sam Rockwell e Alison Lohman completam o elenco principal com qualidade. Rockwell é um trambiqueiro capaz de trair a própria mãe e até a lealdade dele a si mesmo pode ser comprada. Já Lohman surpreende por viver uma adolescente, mas já ter mais de 20 anos nas costas…
Os Vigaristas é um daqueles exemplos da carreira de Ridley Scott em que ele preferiu um projeto menor para simplesmente se divertir e relaxar fazendo o que mais gosta. O roteiro inteligente e cheio de boas surpresas deixa o espectador atento a história, mas são as atuações que garantem esse interesse. Cage dá um verdadeiro show e ajuda a transformar o filme numa deliciosa experiência cinematográfica.