Tenha um pouco de paciência e as quase três horas de duração não vão afetar em nada a sua apreciação de Os Oito Odiados (The Hateful Eight, EUA, 2015). O novo filme de Quentin Tarantino começa um pouco devagar para quem está acostumado com o ritmo eletrizante e sanguinário dos seus longas anteriores, mas depois que você se ambienta à realidade gelada e misteriosa de Wyoming, é difícil não se encantar com a oitava película do diretor.
O início já parece nos dar uma dica de como a velocidade do enredo será, com diversas tomadas do inverno pesado do estado e uma trilha que carrega todo o suspense que teremos nas próximas horas. Ennio Morricone é quem nos conduz até o fim dos créditos iniciais, quando realmente vemos a história dar partida.
O roteiro é dividido em seis capítulos e traz bastantes reviravoltas, mas não tem pressa alguma em nos revelar tudo; nenhuma. Por isso que digo que fãs do cineasta podem ter problemas por causa da demora para que algo finalmente aconteça. Lá para a metade que a ação toma conta e, a cada nova revelação, um novo tiro ou sangue é derrubado de alguma forma.
Um dos motivos que me fez adorar o longa é como Tarantino consegue segurar o mistério de cada um dos “odiados” até o clímax, apesar de sabermos que Warren (Samuel L. Jackson) é uma espécie de herói desde o início. Espécie porque ele não é nenhum santo e também faz crueldades com quem entra no seu caminho.
No fim das contas, o título faz jus aos personagens que encontramos na tela, cada um com sua peculiaridade, alguns com mais imperfeições que os outros, mas todos, digamos, cruéis ou antipáticos à sua maneira. E que elenco Tarantino teve à sua disposição! Porém, devo dizer que, junto de Jackson, quem rouba a cena, para minha surpresa total, é Mannix (Walton Goggins). Os demais estão ótimos, é claro, só que o ator conseguiu dar um carisma bizarro ao futuro xerife de Red Rock e se destacar em cada cena que está presente.
Daisy Domergue (Jennifer Jason Leigh), a única mulher ali, vai se abrindo gradativamente no enredo. A princípio, não temos ideia alguma sobre quem ela é, apenas sabemos que ela é uma mulher procurada e seu carrasco, John Ruth (Kurt Russell), quer levá-la com vida para que seja enforcada. No decorrer do longa, ela vai dando pistas sobre quem é com base em seus olhares e expressões no rosto, basta prestar atenção. Trata-se de uma personagem interessante no fim das contas, por mais bizarra que seja.
As reviravoltas são bastantes a partir da metade, como se Tarantino estivesse apenas preparando o terreno até então. Nós sabemos que aqueles oito, dentro de uma casa, sozinhos e cheios de segredos, vão acabar tendo problemas, mas não é possível prever o que acontece; somente na hora que a ação toma lugar que descobrimos e isso me agradou muito.
Quem veio aqui para ver sangue jorrando constantemente e violência extrema, pode levar um susto. O cineasta usa desses artifícios (menos mas utiliza) e constrói personagens misteriosos que nos provocam a curiosidade desde o começo, mas o ritmo e estilos são outros. Pense que estamos em um inverno rigoroso, dentro de um só local, e o diretor estuda as pessoas o tempo todo para, portanto, revelar quem elas são. Adapte-se a esse novo contexto e você saberá deliciar mais um grande filme de Quentin Tarantino.