Filme: Os 33

OS 33

Imagine um filme sobre os ataques terroristas às Torres Gêmeas, mas em espanhol ou português. Um pouco estranho, mas, dependendo da situação, tudo bem. A grande questão é: por que fazer uma adaptação em inglês sobre os 33 mineiros que ficaram presos dois meses em uma mina no Chile, em um filme chileno? Esse detalhe incomoda bastante, além da falta de paixão, o filme Los 33 (Os 33, Chile/Colômbia, 2015).

A história dos 33 homens já é emocionante em si, afinal, ficar em um local pequeno, extremamente quente e sem comida por 69 dias não é fácil. Ainda mais quando as chances de serem socorridos é pequena, ou seja, a possibilidade de morrer ali é grande. Patricia Riggen tenta e consegue, em determinadas cenas, mostrar o desespero e saudade daquelas pessoas e de quem as espera do lado de fora. Aqueles que trabalharam para retirar os homens da mina também são retratados, além de trechos de matérias verdadeiras que foram ao ar na televisão cinco anos atrás.

O foco do roteiro é em Mario (Antonio Banderas), líder dos mineiros, o futuro papai Álex (Mario Casas), os irmãos María (Juliette Binoche) e Darío (Juan Pablo Raba) e os esforços do ministro Laurence Golborne (Rodrigo Santoro) e o engenheiro André Sougarret (Gabriel Byrne) em encontrar os 33 homens debaixo da terra. Os demais personagens ganham uma atenção menor, apesar de termos uns específicos que aparecem para dar discursos de fé, esperança e medo.

A adaptação é bastante fiel no que diz respeito aos sentimentos dos mineiros lá embaixo e toda a comoção no Chile e ao redor do mundo, com destaque às famílias dos protagonistas. No entanto, temos as típicas alterações feitas para tornar a história mais emocionante (como se o fato em si não fosse dramático): a esposa de Àlex esperava um bebê e ele foi o primeiro a sair por isso, mas na verdade ele foi o décimo e sua mulher não estava grávida e sim a de outro mineiro; quando o jovem subiu na cápsula, não houve nenhum problema como o longa mostra; Barrios (Oscar Nunez) realmente tinha uma amante, mas sua esposa não soube da existência dela até o dia em que as duas se encontraram no acampamento; o tapa que María deu na cara de Golborne também nunca existiu.

Enfim, Los 33 é mais um filme que tenta reproduzir os dois meses que os homens ficaram presos na mina, a aflição de seus entes queridos e o trabalho dos engenheiros, só que com um maior compromisso em relação ao fato em si e como ele se desenrolou; as vidas dos mineiros não seguem o mesmo caminho. O roteiro possui muitos clichês em algumas cenas e diálogos e falta certa paixão na narrativa, daquelas que nos faz nos envolver com aquilo que vemos. Em outras palavras, mesmo com um elenco excelente, não é uma produção que nos marca ou nos comove bastante, talvez apenas na hora em os mineiros finalmente retornam para casa; talvez.

A última cena do enredo, que precede uma homenagem aos verdadeiros 33, falha em nos tocar em função de algo que já citei no primeiro parágrafo: Mario deixa uma mensagem de despedida no refúgio deles, com a data 13 de outubro (na verdade, foi dia 12), só que em inglês. Para que fazer um filme chileno, sobre um fato que aconteceu no Chile, com a maioria das pessoas envolvidas chilenas ou com o espanhol como língua nativa, em inglês? OK que um elenco internacional daria maior atenção à película, mas o fato dela não ser em espanhol é simplesmente bizarro; ainda mais quando alguns personagens conversam e cantam em espanhol e os principais conversam em inglês. Não faz sentido e isso é um grande problema a meu ver na hora de nos conectarmos com a história.

Los 33 é um filme bem feito e com atuações comprometidas e cativantes, mas não espere encontrar algo que vá lhe fazer chorar ou se lembrar da adaptação no futuro. No máximo, ele é mais uma plataforma para vermos o talento de atores como Banderas, Casas, Binoche e Santoro, do que uma execução inesquecível de um fato que fez história no mundo e comoveu milhões de pessoas.