Filme: O Lobo do Deserto (2015)

o lobo do deserto crítica

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Mais do que uma história de sobrevivência, uma história de família. Em O Lobo do Deserto (Theeb, Jordânia, 2015), temos um jovem garoto como centro de uma jornada perigosa e reflexiva sobre o ser humano em si, no contexto pré-guerra.

Ano de 1916, uma tribo de peregrinos vive no deserto da Jordânia, em destaque os irmãos órfãos Hussein (Hussein Salameh Al-Sweilhiyeen) e Theeb (Jacir Eid Al-Hwietat). Eles têm uma rotina bastante simples, regada a conversas na fogueira e brincadeiras, além de um enorme valor dado à fraternidade. Fica claro no filme todo como eles possuem um forte instinto de sobrevivência e solidariedade com os outros, acolhendo todos à sua volta, sejam eles conhecidos ou completos estranhos. No entanto, quando eles resolvem ajudar o inglês Edward (Jack Fox) as coisas não vão como o esperado.

A narrativa do diretor Naji Abu Nowar se destaca por longos momentos de silêncio e foco nas expressões dos personagens e cenário. Por mais que tenhamos diálogos que sirvam para nos orientar em relação ao enredo e características de cada um, o que mais vemos na tela são cortes nos rostos deles, que, na maior parte do filme, conseguem nos dizer o que sentem e pensam. O protagonista, por exemplo, raramente fala alguma coisa; ele se comunica bastante com seu olhar de desconfiança e curiosidade em relação aos homens que seu irmão ajuda e seu carinho pelo parente. Sua linguagem corporal também deixa claro como ele se sente em vários momentos.

A maneira com que o cineasta explora o deserto varia de tomadas à noite, quando não nos deixa ver o que se passa na tela, e de dia, reforçando o calor e o quão remoto é o lugar. Ele praticamente nos contamina com aquela paisagem, tão bela e misteriosa ao mesmo tempo. Em umas das cenas iniciais, Hussein escuta um barulho e vai em direção ao escuro, deixando-nos totalmente aflitos e se preparando para o pior. Segundos depois a imagem dele surge, ao lado de dois homens. Num outro momento, Nowar acompanha uma longa jornada de Theeb atrás do irmão, que resulta em um local onde o chão é castigado pela falta de chuva e apresenta rachaduras. Todo esse processo contribui para nossa conexão com essa atmosfera.

No quesito história, a conexão entre os irmãos é o ponto essencial da trama, já que o amor que sentem um pelo outro fica evidente o tempo todo, em cada olhar e atitude que tomam. Sem essa compreensão do que eles representam para si, fica difícil para nós compreendermos o que acontece na tela; é o ponto central da trama e o desfecho deixa isso claro, além de uma cena na metade.

Outro detalhe que chama atenção a meu ver é a preocupação com o próximo presente nos peregrinos, mesmo estando em um país que seria um dos palcos da Primeira Guerra Mundial anos depois. Eles fornecem estadia, comida e orientação a dois estranhos e não ganham nada em troca, ao contrário de outros mercenários que eventualmente aparecem na tela. Edward e o árabe que o ajuda até chegam a dispensar os seus serviços em uma futura parte, mas Hussein não consegue deixá-los caminhar em um deserto que mal conhecem. É como se ele os tratasse como irmãos que jamais pudesse abandonar. Interessante ver como a cultura deles é apresentada.