Num ano recheado de continuações, o novo Exterminador do Futuro se destaca bastante. Com direito a sorriso do Schwarzenegger.
O ANO DE 2015 ESTÁ SE CONSOLIDANDO COMO UMA TEMPORADA DE RECORDES PARA A INDÚSTRIA CINEMATOGRÁFICA. As continuações chegaram de voadora nas bilheterias e os números expressivos garantiram sequências para a maioria, como no caso de Velozes e Furiosos 7 e Jurassic World – O Mundo dos Dinossauros. Não por acaso, as duas produções estão no topo de arrecadação do ano – e de todos os tempos. O Exterminador do Futuro: Gênesis (Terminator: Genisys, 2015) até pode não ter repetido o sucesso dos outros “veteranos” nas arrecadações, mas é de longe o melhor deles. Mesmo.
Velozes e Furiosos 7 é “legalzinho”. Fez sucesso por conta da curiosidade do público em ver como ficou o último trabalho do protagonista Paul Walker. O quinto filme é incrivelmente superior, e dificilmente será superado. Jurassic World é mega divertido (dinossauros + uma ruiva = puro amor), mas é praticamente uma refilmagem do original. Os responsáveis tiveram a “decência” de respeitar o trabalho de Steven Spielberg e homenageá-lo com diversas citações, ainda que na verdade fosse a mesma história. Exterminador do Futuro: Gênesis é diferente. Começamos com cenas de ação desenfreadas e totalmente inéditas para os admiradores da franquia (e o público comum), mas logo começam as citações. Cara. Você não precisa amar/idolar a série para se emocionar e literalmente chorar de emoção ao perceber que está diante um “remake” dentro do filme. Sequências inteiras do original são repetidas e até acontecer de Gênesis se posicionar como algo bem diferente, lágrimas já escorreram pelo seu rosto. O Exterminador do Futuro 2: O Julgamento Final também é devidamente lembrado (eles poderiam ter sido mais óbvios, mas felizmente não optaram por esse caminho para preservar a surpresa dos fãs). No entanto, O Exterminador do Futuro 3: A Rebelião das Máquinas e O Exterminador do Futuro: A Salvação são COMPLETAMENTE ignorados. Ou seja, nada que aparece nesses filmes é levado em consideração na premissa de Gênesis.
Emilia Clarke (de Game of Thrones) substitui Linda Hamilton no papel de Sarah Connor e faz isso muito bem. A atriz demonstra domínio e segurança para estrelar um blockbuster tão grande, sem se deixar intimidar pela quilometragem de músculos e testosterona em cena: Jai Courtney tirou Tom Hardy da jogada e funciona bem como Kyle Reese, assim como Jason Clarke na pele do poderoso John Connor. Arnold Schwarzenegger reaparece de maneira genial: o andróide pode ser ultrapassado, mas seus circuitos continuam funcionando muito bem. Numa sacada foda do roteiro a forma humana do exterminador vai envelhecendo com o passar dos anos. Impossível não rir da sequência em que ele dá um sorrisão quadrado e extremamente robótico (!!!). J.K. Simmons também faz uma participação especial e, como sempre, se garante como um dos melhores atores da atualidade. Incrível como ele consegue ser um tirano (com o qual me identifiquei bastante) em Whiplash e depois ser um policial lerdo e da paz em Exterminador do Futuro 5.
O diretor Alan Taylor (Thor: O Mundo Sombrio) foi eficiente ao trabalhar com a linha das homenagens (sempre em prol do desenvolvimento da sua própria narrativa, escapando do risco de soar gratuito) e firmar o pé dizendo: “agora estamos por nossa conta. Estamos criando um reboot e é isso aí!”, inclusive, existe até uma cena em que John Connor (Jason Clarke) diz que até aquele ponto, ele sabia de tudo, mas agora estavam à mercê do destino. Talvez seja uma brincadeira sutil do roteiro para se “libertar” de tudo que nós assistimos em 1984 e 1991. Ou não. Tanto faz. O importante é que funciona.
Existem várias piadinhas engraçadas ao longo do roteiro. Algumas até quebram o ritmo sério, como o momento do retrato falado dos heróis, a escolha de palavras peculiares para descrever determinados atos que o andróide vivido por Schwarzenegger toma, dentre outras situações. Humor é sempre bem vindo, mas mesmo garantindo as risadas de quem está ligado no filme, acaba parecendo um desvio quase extremo na proposta da obra. Esse é um detalhe que pode parecer “implicância”, mas que merece ser observado com atenção para refletir se a maneira como cada “alívio cômico” foi inserido não soou perdida do resto da trama.
Falando em detalhes, a já citada sequência que reencena o começo do filme original é uma das mais interessantes. Para rejuvenescer Arnold Schwarzenegger, os artistas encarregados dos efeitos visuais tiveram que suar muito. Primeiro para encontrar um dublê com o corpo igual ao de Schwarzenegger em 1984, depois para o trabalho de recriação de uma pessoa. Em comparação com aquela monstruosidade tosca feita em Exterminador do Futuro 4, a evolução é explícita e os mais distraídos nem perceberão que estão diante um trabalho digital – e não de maquiagem. Se você for para o cinema com a intenção de ficar salivando com alguém, espere pelo menos passar por essa sequência para ter certeza que seu dinheiro será mais bem investido na sua companhia no assento ao lado ou naquilo que acontece na telona. Meu conselho: se for para beijar, vá ver Divertida Mente.
A quinta parte da franquia reescreve totalmente a linha de tempo de Exterminador do Futuro. É um autêntico reboot que não cospe no seu passado como se ele nunca tivesse existido, ainda que tenha liberdade para ignorar todo o material anterior daqui em diante. Viagens no tempo costumam ser confusas e deixar pontas soltas, mas parece que um mistério poderá ser trabalhado no futuro: como é que o T-800 conheceu Sarah antes de 1984? Quem o enviou? Será que tudo visto em Gênesis é apenas parte do plano maligno da Skynet? Ou será que nada poderá mudar o fim do mundo? Não sei você, mas eu quero descobrir logo.
O Exterminador do Futuro: Gênesis é bom o suficiente para garantir lugar de destaque nas listas de melhores filmes de ação de 2015. Não apenas pelo renome, mas por se sustentar como uma produção capaz de combinar porrada, explosões, suspense e senso de humor. O roteiro oferece reviravoltas interessantes (que foram devidamente arruinadas pelo marketing responsável pelos trailers), efeitos visuais de última geração, mas acima de tudo: um ritmo envolvente que nos deixa concentrados em cada movimento dos personagens. Fãs de ação: Mad Max – Estrada da Fúria não está sozinho entre os melhores lançamentos do gênero na temporada.
Ps: Existe uma cena pós-créditos!