Filme: Love & Mercy

Love & Mercy
NUNCA FUI UM GRANDE CONHECEDOR DE BEACH BOYS. No entanto, devo dizer que após assistir a Love & Mercy, de Bill Pohlad, tive a impressão de que conhecia bem mais que imaginava e fiquei com a maior vontade de baixar os discos para escutar de boa num domingo ensolarado. Apenas por esse motivo, por fazer com que o espectador se apaixone pelo tema da obra, você já pode imaginar que o longa-metragem é muito bom, não é mesmo?

Pohlad tem nome em Hollywood como produtor. Sua assinatura está presente em diversos filmes premiados, O Segredo de Brokeback Mountain e 12 Anos de Escravidão são alguns deles, mas demonstra segurança na condução da cinebiografia de Brian Wilson, líder dos Beach Boys. Aliás, vale elogiar bastante o desempenho de Paul Dano e John Cusack, que interpretam o músico em diferentes estágios de sua vida.

Love & Mercy apresenta Wilson durante o período em que ele estava prestes a iniciar o processo complexo de gravação do clássico Pet Sounds. Paralelamente, acompanhamos a vida do artista muitos anos depois do sucesso e já bastante debilitado psicologicamente por conta dos abusos com esses tóxicos da vida. O filme nos dá a oportunidade de nos apaixonar pelo profissional no seu auge criativo e pela pessoa, já nos momentos em que Wilson surge mais vulnerável. Mérito disso está no carisma de John Cusack, que faz possivelmente o seu melhor trabalho em muitos anos. Somos convencidos de que existe realmente um caos mental minando as capacidades intelectuais daquele artista, mas que ele consegue encontrar forças para se apaixonar por Melinda (Elizabeth Banks).

Pohlad não inventa e permite que os atores façam todo o trabalho, mas sem nunca deixar aquela sensação de que o elenco levou o filme inteiro nas costas, como é o caso do recente O Jogo da Imitação. Além das atuações excepcionais de Dano/Cusack, outros dois nomes surgem como uma força capaz de impedir os nossos olhos de piscar. Banks constrói uma personagem com várias nuances e durante uma cena em especial (num jantar em que Melinda está acompanhada de Wilson), nós percebemos claramente o momento em que ela faz com que sua personagem se apaixone pelo líder dos Beach Boys. É uma coisa sutil, delicada, mas que está bem clara no jeito de olhar. Ela se apaixona por aquele maluco cheio de problemas e com um terapeuta explorador, que é interpretado brilhantemente por Paul Giamatti. A atuação seria melhor se não fosse o seu desaparecimento um pouco brusco, digamos assim.

Love & Mercy Beach Boys

Gostei bastante da sutileza com que a primeira viagem de LSD de Brian Wilson é retratada. Geralmente há um grande excesso por parte dos realizadores, como se eles nunca tivessem experimentado de verdade ou acreditam que todo mundo começa a ver unicórnios e que o espectador precisa compartilhar disso ou não vai entender. A narrativa é discreta e no momento em que Brian está deitado num gramado, podemos perceber algumas flores florindo lentamente. Ali temos a representação do despertar de um dos grandes gênios da história da música.

No entanto, sem querer enaltecer demais a qualidade de Love & Mercy, existem pequenos detalhes que poderiam ter sido construídos com mais eficiência. Senti falta de algum trabalho na fotografia para caracterizar cada época, por exemplo. Uma pena que Pohlad tenha preferido apenas se manter na posição de “chefe que apenas conta a história” sem se envolver realmente no processo e utilizar recursos mais técnicos.

Love & Mercy é um dos principais filmes da temporada 2015 e parte disso se deve ao excelente trabalho da dupla Paul Danno e John Cusack, que se entregaram ao papel e isso transformou a produção em algo quase tão especial quanto as canções mais simples e bobinhas do Beach Boys.

https://youtu.be/lD4sxxoJGkA