Filme: Jurassic World – O Mundo dos Dinossauros

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O fator primordial nostálgico é algo levado a sério por Jurassic World – O Mundo dos Dinossauros. Ouvir traços sutis do tema clássico, voltar à Ilha Nublar pelas lentes de um plano aéreo, reavistar os antigos jipes sob poeira são experiências de caráter absolutamente emocional para toda uma geração que teve em Jurassic Park um símbolo máximo de temor, aventura e diversão. Agora, sob a tutela de Colin Trevorrow, a retomada é realizada com maestria – tanto para aqueles que emocionavam-se com a revisita quanto para tantos outros que maravilhavam-se pela primeira vez.

E nesta característica pauta-se um dos grandes trunfos deste projeto diante de seus objetivos: compreender e absorver plenamente os anseios estabelecidos pela franquia desde sua – brilhante – concepção original. Embora tenha sido bastante condenada a decisão de recriar alguns passos do título de 1993, deixando as novas ideias de lado, era esse o espírito que poderíamos desejar desta reinvenção, uma vez que, num contexto em que grandes produções parecem cercadas por excessiva racionalização, complexidade temática, tons sombrios etc – e parece ser realmente isso o que agrada as mais novas gerações, de crianças que passam mais tempo empenhando-se em jogos estratégicos de seu celular ou tablet, e menos brincando na rua com seus semelhantes -, faz muita falta aquele velho e empoeirado senso inocente de aventurar-se pela jornada, de permitir-se temer aquilo que soa surreal mesmo no plano imaginário, de maravilhar-se pelo espetáculo. São conceitos dos quais, possivelmente, só nos lembramos resgatando títulos do milênio passado. É bom saber que uma produção “ousou” trazê-los de volta.

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Não façamos distorção de discurso, no entanto: não procuro fazer campanha para que blockbusters estadunidenses apenas recriem, reciclem e utilizem-se de elementos tradicionais, sob um pretexto saudosista. Pelo contrário; adoro, por exemplo, que Planeta dos Macacos: O Confronto vista-se de filme de ação utópico atrativo para construir uma brilhante alegoria histórica, ou mesmo o fato de Interestelar construir-se como uma ficção científico-espacial, mas possua bases extremamente firmes e ambiciosas em estudos e teorias metafísicas. A cultura do predominante “mais do mesmo” está atrelada à desvalorização do Cinema enquanto Arte e é absolutamente retrógrada, sim, mas a questão é que Jurassic World – O Mundo dos Dinossauros possui uma proposta diferente, mais próxima deste aspecto saudosista ressaltado – adequada quase perfeitamente às decisões narrativas que tomou -, afinal, Arte também trata de recordar para entender o próprio contexto.

O interessante, então, é também ter a possibilidade de questioná-la de alguma forma. E o roteiro de Rick Jaffa, Amanda Silver, Derek Connolly e Colin Trevorrow, embora de maneira bastante didática, o faz, através da proposta e ideais de expansão do parque como clara crítica à indústria do entretenimento e do espetáculo, que capitaliza avanços científicos e vidas em nome do consumo escapista. Embora não houvesse necessidade de esta ser exposta de tantas maneiras, em diálogos de três ou mais personagens, é interessante que haja uma proposta reflexiva dentro da narrativa. Ainda no espectro de certa maneira social, mostra-se igualmente notável o crescimento de Claire (a bela Bryce Dallas Howard) no desenrolar da trama; embora esta seja inicialmente pautada em estereótipos – a familiar ausente, moça sofisticada etc -, este engrandecimento torna-se claro em dois momentos: a lágrima diante da morte de um braquiossauro e a salvação de Owen das garras de um pterodátilo – que, aliás, comprova a admirável onda recente de importância das personagens femininas em produções de ação, fugindo do habitual machismo do gênero.

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A personagem, em inegável crescente na trama, ainda recebe a companhia de Owen (Chris Pratt), Zach (Nick Robinson) e Gray (Ty Simpkins) para formar o grupo de protagonistas. O primeiro, além de ter seu intérprete dando mais um passo rumo à entrada no alto escalão dos “atores-blockbuster”, é um personagem cativante e extremamente carismático, revelando certa inocência em suas intenções ao mesmo tempo em que transmite confiança nas ações, na linha do imortal Indiana Jones, certamente com o respaldo do produtor Steven Spielberg; os dois mais jovens, por sua vez, afastam-se do estereótipo de vítimas irritantes e, tendo em Owen seu espelho, conseguem também cativar o espectador. Numa situação de risco e grandiosa ameaça, o público deve não apenas reconhecê-la, como também sentir por aquelas personagens por esta ameaçadas – felizmente, aqui isto ocorre. As pontuais participações de Vincent D’Onofrio, Omar Sy e Jake Johnson, embora não sejam permissivas à personagens complexas, também são eficientes e merecem menção.

Tratando de ameaça, o Indominus Rex consegue efetivar-se entre os vilões animais mais efetivos da franquia, por sua inteligência e pelo fator psicótico – matar seus iguais apenas por prazer -, o que, considerando sua criação por seres humanos com o emprego de avançados recursos científicos, serve metaforicamente para refletir, justamente, o próprio homem. A fotografia de John Schwartzman, dessaturada sem muito exagero, e a trilha sonora de Michael Giacchino, que utiliza-se do tema clássico de John Williams mas consegue manter-se inventiva, variando no complemento do deslumbramento com o parque e da tensão por seus desdobramentos posteriores, são recursos – juntamente de outros – que cercam a presença de tal grande ameaça, ressaltam o fator emocional e atingem o ápice durante a catártica sequência de ação final que, envolvendo quatro dinossauros, leva à vibração mesmo o mais amargo espectador – e ainda prova que, afinal, o T-Rex ainda reina.

A constante lembrança dos desastres anteriores que cercaram a tentativa da efetivação do Parque dos Dinossauros, paralelamente à proposta do avanço, de através de recursos completamente renovados fazê-lo realmente funcionar, apesar dos riscos, traçam um interessante paralelo de inversões com Jurassic World – O Mundo dos Dinossauros, de Colin Trevorrow: o necessário é avançar sempre; este não elimina, porém, o anseio emocional de recordar, com saudade, daquilo que passou. Façamos existir, por vezes, a alternativa de uni-los.

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