INIMIGOS PÚBLICOS (Public Enemies, 2009) É UM DAQUELES FILMES CHEIOS DE ATRATIVOS. O mais óbvio é acompanhar a atuação de Johnny Depp num personagem sério e completamente diferente de tudo que ele representa quando está sob a direção de Tim Burton ou na pele do pirata Jack Sparrow. Outro ponto atraente é a chance de ver o embate entre Depp e Christian Bale numa cinebiografia policial sobre um dos maiores criminosos da história. Por último, e mais importante apenas para os cinéfilos, é a direção de Michael Mann (Fogo Contra Fogo e Miami Vice).
1933. John Dillinger (Depp) é um famoso criminoso que rouba bancos junto com seus parceiros fora da lei. Até que o fundador do FBI J. Edgar (Billy Crudup) fica chateado da vida com a fama do bandido e, com muita inveja no coração, contrata um agente frígido chamado Purvis (Bale) para iniciar a maior caçada a um criminoso já vista na história dos Estados Unidos até então.
Assim como em Fogo Contra Fogo, Mann sabe valorizar a força dos seus protagonistas e promove um duelo verbal arrepiante entre Dillinger e Purvis. No primeiro encontro entre mocinho e bandido se destacam a frieza e ironia que Depp insere no seu personagem e na presunção e arrogância que Bale confere ao policial. Nós, como espectadores, ficamos divididos entre torcer pelo lado correto da lei ou não. Aliás, essa é uma sensação recorrente nas produções de Michael Mann. Ele consegue nos fazer torcer para seus personagens que apesar de não agirem dentro da lei, não são verdadeiros psicopatas – exceto no caso de Tom Cruise, em Colateral, claro.
Já que comentei de Fogo Contra Fogo, que conta com um tiroteio excepcional em sua metade final, Inimigos Públicos aparece com uma espécie de recriação daquele momento numa sequência noturna foda em que os agentes da lei cercam o grupo de bandidos numa casa e atiram sem ter a menor pena. Nessa, sobram vítimas fatais para os dois lados, mas o que realmente chama a atenção é que Mann filma tudo com maestria e nos faz segurar na poltrona com a tensão e o risco de qualquer coisa ser possível de acontecer.
Outra característica habitual das obras de Mann está na maneira como o sexo é colocado em cena. A nudez não é necessária para mostrar transas, que se tornam verdadeiras poesias visuais numa demonstração de que a relação sexual de duas pessoas é algo sagrado para Mann. Em Inimigos Públicos, o diretor apresenta a primeira transa dos personagens de Depp e Marion Cotillard com uma sensibilidade ímpar e adiciona intimida justamente ao fazer com que cada um deles desabafe ou revele detalhes pessoais de suas vidas. A maior exposição para Michael Mann não está num pedaço de carne à mostra, mas sim no quanto cada um consegue mostrar de si mesmo para o outro.
A trilha sonora de Elliot Goldenthal é provavelmente uma das mais inspiradas da carreira do diretor. Os temas são poderosos e fortalecem as cenas em que aparecem. Não tenho certeza nessa afirmação, mas arrisco dizer que fora a escolha de uma ou outra canção do Audioslave em suas obras (“Shadow on the Sun”, em Colateral; “Wide Awake” e “Shape of Things to Come”, em Miami Vice) Michael Mann nunca foi mais feliz ao escolher uma trilha sonora. Um motivo importante para Inimigos Públicos ser uma obra tão interessante está em suas músicas e sua importância para deixar Dillinger em nossas mentes.
Inimigos Públicos permanece no meu top5 de principais obras de Michael Mann, ao lado de Colateral, Miami Vice e o já clássico Fogo Contra Fogo. É uma obra eficiente e que nunca perde o ritmo, nem mesmo quando o roteiro apresenta a queda de Dillinger diante seus oponentes. O confronto de Bale e Depp em nada ficam devendo às duplas de antagonistas vividos por Jamie Foxx e Tom Cruise, em Colateral, ou Robert de Niro e Al Pacino em Fogo Contra Fogo. E é justamente em cima da química entre esses dois atores que Inimigos Públicos se destaca e se garante como obra obrigatória dos anos 2000.