DEPOIS DE TRABALHAR COM OS MEDALHÕES NO CINEMA, a Marvel começa a voltar sua atenção para personagens menos populares do grande público com mais frequência. O sucesso de Guardiões da Galáxia animou o estúdio a investir em produções em que existissem maiores liberdades de fazer modificações sem irritar demais os fãs. Homem-Formiga não chega a ser tão desconhecido quanto os heróis birutas do filme estrelado por Chris Pratt, mas está bem longe de ser conhecido como o Capitão América ou o Homem-Aranha. Está mais para a condição do Gavião Arqueiro antes de Os Vingadores, sabe?
Paul Rudd vive Scott Lang, um ladrão “do bem” que não usa força física ou coerção para seus crimes. Na verdade, ele se descreve como um gatuno. Após sair da prisão e encontrar dificuldades para ser contratado, Lang aceita uma dica e realiza um assalto. Ele acreditava que invadiria um cofre e ficaria rico, mas tudo que encontrou foi um estranho uniforme de motoqueiro. A partir desse momento, sua vida se transforma e ele se descobre como parte essencial de uma trama para “salvar o mundo”.
Apesar da comparação com Guardiões da Galáxia, que permanece como o melhor exemplar cinematográfico da Marvel até hoje, Homem-Formiga é bem inferior. Existe carisma de sobra no personagem (poxa, com Paul Rudd no papel principal não tinha como ser diferente, não é mesmo?), muitas doses de humor espalhadas pelo roteiro, coadjuvantes divertidos e um ritmo bom em que a história se desenvolve e o espectador vai ficando cada vez mais interessado, mas existe uma sensação desconfortável de deja vu no ar: será que já não assistimos a algo bem parecido antes?
Em 2008, com Homem de Ferro, Tony Stark (que é mencionado de uma maneira que o público entenderá perfeitamente bem qual será o lado do Homem-Formiga durante a Guerra Civil, em Capitão América 3) combate um vilão (Jeff Bridges) que assumiu o seu lugar na companhia e cuja ambição o levou à loucura. Darren Cross (Corey Stoll) é exatamente assim, o que enfraquece o roteiro ao torná-lo previsível. Desde a primeira aparição fica claro quem será o inimigo e qual será o motivo do confronto. Talvez seja um “defeito” que irá atingir apenas ao público mais exigente, mas está lá para qualquer um com um mínimo de sensibilidade decifrar.
O que tem de previsível, Homem-Formiga também tem de engraçado. Além do carisma próprio de Rudd e das suas interações com o sempre interessante Michael Douglas, temos um grupo de personagens coadjuvantes patetas que funcionam como alívio cômico para atingir em cheio ao público mais jovem. Michael Peña interpreta um dos comparsas de Lang e sua característica principal é ser impressionável e prolixo. Isso rende cenas engraçadas, assim como as sequências de treinamento, mas o melhor momento é aquele em que o herói precisa invadir a sede dos Vingadores para roubar uma peça essencial para o seu plano de evitar o fim do mundo. Evangeline Lilly até nos dá a certeza que encarnará a heroína Vespa, mas toda a sua postura independente não é o suficiente para que ela realmente seja uma personagem bem construída.
Homem-Formiga é um autêntico filme da Marvel com muita ação, humor e personagens carismáticos que seduzem públicos de qualquer idade. Com Guardiões da Galáxia descobrimos que podemos exigir sim que os filmes de super heróis da editora sejam cada vez melhores – especialmente se tratando de trilha sonora, que geralmente é ignorada. Se não temos aqui um candidato forte ao topo de produções inesquecíveis da Marvel, com certeza acompanhamos o “nascimento” de mais um herói que conquistará os fãs desse subgênero aparentemente inesgotável.
PS: Existem duas cenas pós-créditos. A segunda delas é a que faz o tradicional link para o próximo filme da Marvel, no caso: Capitão América: Guerra Civil.