MEMÓRIA AFETIVA AFETA O NOSSO JULGAMENTO? Sim ou não? Na maioria das vezes que assistimos novamente a uma obra vista primeiramente quando éramos crianças/adolescentes, descobrimos que fomos iludidos por anos e que aquilo que parecia tão bom na nossa memória é uma merda completa. Outras vezes, raras, diga-se de passagem, descobrimos que mesmo como cinéfilos mais experientes, determinadas obras superam esse desafio e envelhecem como um belo vinho. Seja como for, definitivamente, Highlander – O Guerreiro Imortal não faz parte desse seleto grupo e é uma das coisas mais deprimentes a que já assisti.
Não quero soar rancoroso ou simplesmente causar polêmica com os fãs do longa-metragem original. Confesso que mesmo detestando o filme, ainda guardo um carinho muito especial por ele. Nasci em 1985 e tive várias chances de assistir Highlander quando era moleque. Fez parte da minha formação e não posso fingir que não aconteceu. Infelizmente.
(Eu provavelmente voltaria no tempo e me daria uns bons tapas: “Moleque! Pare de ver essa porcaria porque isso é ruim. Vá ver a porra do Poderoso Chefão, Era Uma Vez no Oeste e Taxi Driver! Ah, e não escolha fazer publicidade quando virar adulto. Seja esperto e faça engenharia. Ah! E pelo amor de Deus. Não se relacione com nenhuma garota com nome que comece com I, J, K, L, M e N. Elas vão te traumatizar para sempre!” Seria um grande conselho, vejam bem! Mas se isso acontecesse, eu não estaria aqui hoje detonando essa merda de filme.)
Para quem nunca viu e não tem a menor ideia do que se trata, Highlander conta a história de um homem imortal que passa séculos vivendo nas sombras e combatendo outros como ele, pois só pode haver um. Ele começa a ser investigado pela polícia e reencontra com o seu grande inimigo, um psicopata de dois metros de altura disposto a tudo para arrancar a cabeça de Highlander e ser o último imortal da Terra.
Christopher Lambert é um dos piores protagonistas que eu já tive conhecimento. Muitas vezes vejo brincadeiras na internet à respeito da semelhança dele com Thomas Jane, mas quem dera isso pudesse ser aplicado além da aparência física. Faria um bem danado para o Lambert e melhoraria consideravelmente Highlander. O ator aparece em cena com uma cara de cu tremenda e age como se estivesse cagando tijolos o tempo inteiro. Ele não tem nenhuma cena em que consiga transmitir algum tipo de emoção para o espectador. Chega a ser irritante e um paradoxo quando se tem um antagonista forte como Clancy Brown, que vive o vilão Kruger. Não é que se trata de uma atuação digna do Oscar, mas Brown é cínico, cruel e insano do jeito que o seu personagem pede. A gente sente que ele está vivo de verdade, ao contrário da pedra de emoções que é o Highlander.
Poderia ser um desastre ainda maior, mas a breve participação de Sean Connery impõe respeito e eleva o nível da obra em 500% – mas somente durante os menos de 30 minutos em que o ator fica em cena. Connery interpreta o “mestre Yoda” de Highlander e cuida de todas as explicações sobre a imortalidade e inicia um breve treinamento. Tudo é feito com a maior classe e até compensa as fracas coreografias de lutas com espadas.
A trilha sonora com diversas músicas do Queen é a única parte inquestionável da obra. A bela “Who Wants to Live Forever” é emocionante e dá um aperto no coração saber que Freddie Mercury compôs uma canção tão linda para ser usada por um ator com menos expressões que uma parede. “Princes of the Universe” é usada na introdução e até chegou a me enganar momentaneamente na esperança de que o longa-metragem realmente fosse tão bom quanto eu acreditava que fosse. Minha memória pregou uma grande peça!
Highlander é um caso claro de obra que merece demais uma refilmagem. Não apenas os efeitos especiais do original são datados, quanto o próprio filme é bem ruim. Muito disso se deve à horrorosa atuação de Lambert. Apesar disso, continua sendo um clássico que se sustenta por razão apenas do nosso lado emocional de ter visto essa bomba na nossa infância.