Economia é complicado. Porém, por mais difícil que seja para pessoas leigas como eu entenderem um filme sobre a crise financeira de 2008, a análise divertida e humana de A Grande Aposta (The Big Short, EUA, 2015) é uma maneira bem interessante de ver o fato que surpreendeu o mundo há oito anos.
A dinâmica da adaptação é rápida como um dia na bolsa de valores: o enredo não para, temos informações a todo instante, com uma montagem fantástica que utiliza de artifícios como imagens congeladas, personagens que conversam com o espectador e constantes explicações, muitas vezes com desenhos ou flashbacks, de termos econômicos. Admito que isso não adiantou no meu caso, pois não tenho nenhum conhecimento prévio do tema e não dá para aprender com uma narrativa tão veloz. Mas nada que atrapalhe o entretenimento.
Além do roteiro dinâmico e recheado de humor, a crítica que o diretor Adam McKay faz é bastante relevante. Ele aproveita o tema específico para fazer uma análise geral do sistema capitalista em si, de como o dinheiro está acima das pessoas, de como poucos lucram em cima de indivíduos humildes e ingênuos, e de como, mesmo quando tudo desmorona, os verdadeiros culpados não são punidos e sim os pobres e imigrantes. Dois personagens aparecem para passar essa mensagem de conscientização: Mark Baum (Steve Carell) e Ben (Brad Pitt), sendo o primeiro o foco do longa e o personagem mais humanizado do mesmo.
A cada papel apresentado, temos uma breve apresentação na tela sobre ele, mas Baum é o mais explorado. Ele é o chefe, digamos, solidário, que sabe que vai ficar milionário mas jamais fala sobre isso; seus diálogos servem para nos mostrar sua preocupação com os outros e raiva do sistema fraudulento e ganancioso. Também conhecemos sua família por meio da esposa (Marisa Tomei) e a perda do irmão que o afeta profundamente porque ele pensa que não deu atenção suficiente ao mesmo. A cena na qual ele desaba emocionalmente é de arrasar o coração.
Outro destaque é Michael Burry (Christian Bale), homem extremamente inteligente e cujos métodos de trabalho são hilários. Ele usa camiseta e short no escritório, fica descalço e escuta rock o tempo todo. Ele que prevê a crise de 2008 três anos antes, mas sua participação se torna coadjuvante ao longo do filme em função de Baum. Mesmo assim, ele é o cara que agita cada cena em que aparece, em alguns casos literalmente.
A história ainda possui outros nomes marcantes, como Bennett (Ryan Gosling), que nos conquista com sua sinceridade e grosseria. Gosling está fenomenal, bom vê-lo mostrar seu lado cômico e de maneira tão aguçada! Os demais completam o elenco de suporte e servem para preencher os espaços que os principais não preenchem, com direito a Margot Robbie e Selena Gomez em duas cameos perfeitamente inseridas no roteiro.
É claro que A Grande Aposta não consegue abordar a crise de maneira completa, afinal, o foco foi no pequeno grupo de pessoas que apostou contra a economia americana e lucrou bilhões em cima disso; temos a visão deles diante do ocorrido e não uma visão global. Por isso que vemos os repetidos comentários e imagens sarcásticos e as pessoas comuns que foram afetadas pela crise, como dois corretores de imóveis, uma família que vai morar no carro porque perde a casa ou os funcionários dos bancos que faliram. Por ter esse tom humanizado e crítico (com humor), a produção funciona muito bem, não sendo afetada nem um pouco pelas complexidades do tema central.