Uma delicada e conturbada história de amor ambientada na década de 50. Com bastante sutileza e detalhe, Todd Haynes apresenta na tela Carol (EUA, 2015), destacado pelas atuações impecáveis de seu elenco e uma maneira doce de relatar o romance das duas protagonistas.
Carol (Cate Blanchett) é uma bela e elegante mulher, mãe de uma garotinha e em pleno divórcio do marido, Harge (Kyle Chandler). Sua vida muda quando vê Therese (Rooney Mara) na loja em que a jovem trabalha em Nova York durante o período natalino. Esta, por sua vez, namora Richard (Jake Lacy), um rapaz apaixonado por ela, mas pelo qual ela não sente nada de especial. A partir do momento em que Carol aparece em seu mundo, ela também vê tudo se transformar. Parece uma história clichê, mas não é bem assim.
Por mais que as duas se sintam atraídas e se aproximem rapidamente, vemos o relacionamento delas se desenvolver lentamente. Um almoço, um convite à sua casa em Nova Jersey, uma viagem pelo país juntas e, aí, que a paixão finalmente toma forma. Tudo isso narrado com uma forte sutileza e foco nos olhares das personagens. Temos alguns diálogos, mas o especial da direção de Haynes é a atenção especial que ele dá às trocas de olhares entre as atrizes principais, as quais apresentam uma química impecável no longa todo. Cada toque e olhar dizem, desculpe o clichê, mais que mil palavras. Isto torna a visão do cineasta ainda mais bem-sucedida.
Mara possui mais nuances que Blanchett de modo geral, mas Carol, antes uma mulher, digamos, mais confiante e inabalável aparentemente, acaba mostrando seu lado mais sensível ao longo da produção. Quando chegamos à segunda metade e uma série de acontecimentos começam a afetar profundamente sua personagem, entre eles a briga pela custódia da filha, a atriz nos toca bastante com o sofrimento da mulher. Mara, por sua vez, tem 30 anos, mas ela consegue provar que Therese ainda é uma pessoa bastante ingênua e imatura, portanto, sua grande diferença de idade em relação à amante fica bem nítida.
O filme não nos revela muitos detalhes sobre Carol, mas isso não é um problema. A meu ver, esse mistério que fica em relação a ela acrescenta muito à história e, eventualmente, vamos conhecendo-a melhor por meio de atitudes e a personagem Abby (Sarah Poulson), melhor amiga e seu antigo affair. Therese ainda está começando a vida, mas sabemos que ela é aspirante à fotógrafa e toca piano; mais para frente no enredo vemos Carol lhe dando uma potente câmera e Therese dando-lhe um vinil que tem a música que ela tocou no piano anteriormente.
Haynes nos traz alguns momentos cansativos por causa da lentidão da narrativa, mas esse é o universo criado pelo diretor, para ele explorar as vidas das mulheres e seu relacionamento. Além disso, o roteiro discute as dúvidas de Therese quanto à sua sexualidade e amor que sente por Carol, o preconceito da sociedade com os homossexuais e a dura e longa batalha pela custódia da filha com Harge, a qual afeta o casal protagonista. Trata-se de um grande drama no fim das contas.