O SUCESSOR DE UM DOS PRINCIPAIS SUCESSOS DA CARREIRA DE RIDLEY SCOTT REPRESENTOU UMA GUINADA EM SUA CARREIRA. Após se tornar reconhecido entre os fãs de sci-fi por conta do belo trabalho em Alien, O Oitavo Passageiro e Blade Runner: O Caçador de Andróides, o cineasta decidiu mudar completamente de rumo e dirigiu A Lenda (The Legend, 1985), uma fábula estrelada por Mia Sara, Tim Curry e Tom Cruise.
Com influências claras de Peter Pan, O Senhor dos Anéis, Star Wars e dos contos dos irmãos Grimm, o longa-metragem apresenta uma princesa que causa uma verdadeira confusão e permite que um grupo de duendes malignos roubem o chifre de um unicórnio para que o Lord das Trevas dominasse o mundo. Cabe a um jovem guerreiro impedir que a escuridão e as trevas prevaleçam.
A Lenda causou muita confusão com suas diferentes versões, o que prova que Blade Runner não era o único que sofreu com duzentas versões alternativas. Ridley Scott não consegue desistir de suas obras e de vez em quando ainda encontra problemas com os chefões dos estúdios. Assisti ao chamado Directors Cut com a trilha sonora de Jerry Goldsmith, que funciona muito bem para dar o tom para as cenas de aventura e tensão. De qualquer forma, a verdade é que A Lenda não é um filme bom. No entanto, existe alguma coisa que nos deixa apaixonados pela narrativa. Será a narrativa? Será o universo fantástico criado por William Hjortsberg (autor do livro que inspirou Coração Satânico, de Alan Parker)? Será a magia dos unicórnios? Vai ver é como o amor e não tem como explicar.
Tom Cruise ainda em começo de carreira não convence o espectador na pele de um jovem guerreiro apaixonado pela princesa. Logo que entra em cena, deixa a impressão de ser um pouco idiota (no sentido de ser burro mesmo, tipo aqueles meninos que ficam de boca aberta sem entender nada do que o professor fala na sala de aula, sabe?), mas então se revela um verdadeiro salvador da pátria. Mia Sara é outra que deixa a gente com sono durante suas cenas. Até poderia dizer que Scott tentou recriar o clima ingênuo e inocente de produções infantis, o que explicaria as expressões perdidas e caricaturais de seu elenco, mas acredito que não seja o caso: os atores estão horríveis mesmo, exceto por Tim Curry na pele (e borracha) do capiroto vermelhão Lorde das Trevas. Mesmo com os exageros, seu personagem é o mais interessante da trama.
O roteiro bebe descaradamente em histórias clássicas, o que não deixa de ser um deleite para os fãs de RPG. Uma criança aparece toda cheia de pose e fazendo charadas que precisam ser desvendadas por Jack (Cruise): do mesmo jeito que um certo hobbit precisou responder para não ser morto pela criatura Gollum. Outra referência clara é a Peter Pan, na figura de uma fadinha sósia da Sininho. Nada contra a possível “falta de originalidade”, ela é bem divertida e funciona bem como uma homenagem.
O que merece nota negativa é o clima datado da produção. Existe todo um charme que tornou A Lenda em um dos clássicos da década de 1980, mas os efeitos visuais são bem simples e bobinhos. De qualquer maneira, Ridley Scott se arriscou bastante ao trabalhar com uma fantasia que acabou não sendo bem recebida e somente com o passar dos anos virou objeto de adoração dos cinéfilos na filmografia do cineasta.