SERIA UM GRANDE CRIME DESCONSIDERAR QUE, no meio de tantas tolices, Roland Emmerich (o irmão perdido de Michael Bay) sabe como poucos divertir o espectador. Seja com os vários efeitos especiais de última geração, com a necessidade doentia de colocar a vida no planeta Terra em risco ou simplesmente com personagens caricaturais e com piadinhas infames: o diretor sabe o que está fazendo. 2012 é a sua visão mais recente do apocalipse e a interpretação cinematográfica de toda a profecia dos Maias sobre o fim dos nossos dias. Como não se divertir?
Felizmente para o público, Emmerich tem tendências megalomaníacas bem mais discretas que Bay. Na verdade, o lance do diretor é esse fetiche (que supera qualquer grau de masoquismo) em destruir tudo e todos. O tempo inteiro. Mesmo em O Patriota, o diretor explora essa tendência destrutiva que se opõe à vida. Independence Day, O Dia Depois de Amanhã, e agora 2012, fazem parte de um pacote sobre a extinção da vida no planeta e é curioso pensar nas mensagens que esses filmes trazem. Será que o ser humano está mesmo fadado a lutar e vencer todas as suas batalhas? Se o objetivo é destruir, porque não levar isso adiante com todas as suas consequências?
2012 começa alguns anos antes, quando um cientista descobre que o núcleo da Terra está sofrendo alterações que terão graves efeitos no futuro, ou seja, a extinção da espécie. A informação é repassada para os governos de diversos países, que preferem omitir tudo do grande público, afinal, pobre bom é pobre morto e nesse caso, seríamos todos vítimas. É nesse ponto que “descansa” (literalmente) o melhor do filme. John Cusack interpreta um escritor que descobre por acaso sobre uma nave que irá salvar a vida de poucos felizardos (ricos), ou seja, ele interpreta todos nós, humanos normais que nunca chegarão perto de saber o que é ter um bilhão de dólares no banco. O filme de Emmerich não tinha nenhuma razão para focar em injustiças sociais ou má distribuição, mas cabe ao espectador (forçar a barra e) refletir sobre o quanto aquela luta de Cusack para escapar, poderia ser a nossa no dia a dia. Ou não, sei lá.
Preciso dizer que a razão deste texto existir é a desmiolada e completamente non-sense sequência em que Cusack dirige um carro de luxo enquanto a cidade inteira desmorona. Se existe algo para se elogiar em 2012, aqui está. Prepare-se para respirar bem fundo e se deliciar com a adrenalina desenfreada que Emmerich oferece para seu público. Ignore alguns (d)efeitos especiais que ficam descarados e concentre-se na diversão. Provavelmente é uma das cenas envolvendo automóveis mais interessante dos últimos anos, e isso não é pouca coisa.
Woody Harrelson também está no elenco e interpreta um sujeito maluco que deve ter fumado erva demais enquanto vivia na floresta. Ele que é o responsável por fornecer informações vitais para que Cusack consiga salvar sua família. Lamentável que seu personagem seja tão forçado e sem um pingo de naturalidade. Será que o cara que interpretou Larry Flint se esqueceu como exagerar sem parecer um boçal? Ou seria apenas uma direção que Emmerich escolheu para o desfecho da (breve) participação do ator? Danny Glover completa o elenco interpretando Barack Obama, opa, o Presidente norte-americano. E como não podia deixar de ser num desses exemplares de cinema dignos do diretor de Independence Day, é justamente nesse personagem que está escondido, ansioso para gritar: “eu estou aqui”, o tal patriotismo dos responsáveis pelo filme. Nem com o mundo acabando os caras conseguem dar um sossego e ignorar essa coisa de acharem que são o centro do mundo.
2012 é um filme bobo, mas que diverte. Especialmente se você tiver uma televisão grandona e um sistema de som de fazer seu vizinho invejoso querer chamar a polícia.
Direção: Roland Emmerich
Roteiro: Roland Emmerich e Harald Kloser
Elenco: John Cusack, Woody Harrelson
Nota: