O jornalismo investigativo tem como função, de maneira geral, divulgar e apresentar para a sociedade fatos, dados e fontes de uma história relevante. Nessa perspectiva, um filme sobre os bastidores de uma investigação jornalística, levando em conta a liberdade cinematográfica, também atua como uma plataforma que traz à luz narrativas significativas e, por vezes, chocantes.
É o que a diretora Maria Schrader (O Homem Ideal, 2021), planejou para seu mais recente projeto Ela Disse, que estreia no Brasil dia 8 de dezembro. O filme conta o percurso investigativo das jornalistas responsáveis pela reportagem no New York Times sobre os casos de abusos sexuais envolvendo o poderoso produtor de Hollywood, fundador da Miramax, Harvey Weinstein.
As jornalistas Megan Twohey e Jodi Kantor são interpretadas pelas atrizes Carey Mulligan (Bela Vingança, 2020) e Zoe Kazan (Doentes de Amor, 2017), respectivamente. As duas atrizes estão excelentes em seus papéis, em razão de transmitirem uma veracidade aos personagens que nos faz esquecer que são duas atrizes interpretando outras pessoas, e apenas aproveitar as performances.
Dessa forma, o roteiro é realista e pacientemente nos conta todo o processo e trajetória que elas precisam percorrer para conseguir o artigo. Assim, todas as frustrações, os obstáculos e contratempos que Megan e Jodi passarem são mostrados em tela. Ademais, vemos como esse trabalho afeta a saúde e vida pessoal das protagonistas. E, impressionantemente, o filme mantém um ritmo ágil e nunca se torna cansativo.
Além disso, ao abordar um assunto tão pesado como as décadas de assédio contra as mulheres praticadas por Harvey Weinstein, Ela Disse é sensível e convincente em mostrar a perspectiva das vítimas. É importante que em um filme assim, nos dê um panorama desse sistema que protege homens poderosos e seus comportamentos criminosos e como as vítimas são totalmente arrastadas por ele.
Embora tenha elementos de dramatização para projetar mais emoção em sua audiência, Ela Disse trata as vítimas com muito respeito e consideração. Nenhuma cena no filme quer apenas te fazer chorar, longe disso, o filme provoca uma reflexão e, de maneira muito eficiente, nos faz engajar na jornada dessas duas jornalistas implacáveis em busca da verdade, essa matéria se torna a missão da vida delas.
Nesse sentido, todas as técnicas de filmagem contribuem para que o longa atinja seu objetivo. A trilha sonora é eficiente e visualmente Ela Disse tem uma fotografia muito bonita. A edição escolhe estratégias interessantes para os atos que simulam os horrores que são retratados. Ademais, as participações especiais e até mesmo a figura do próprio Harvey são usadas inteligentemente. Ela Disse tem sido comparado com Spotlight – Segredos Revelados, filme de 2017 que também tem a procura por uma história impactante para a sociedade como narrativa. Considero essa comparação positiva para o filme, porque os dois são muito competentes à sua maneira. Portanto, Ela Disse é um dos filmes mais importantes do ano e quem ama uma história de jornalismo investigativo bem dirigida e atuada, não pode deixar de conferir nos cinemas.
