KÉDIZÊ
De Francis Ford Coppola. Com Vincent Gallo, Alden Ehrenreich, Maribel Verdu, Carmen Maura
Francis Ford Coppola retoma sua produção cinematográfica como diretor, a partir de um roteiro original de sua autoria, tratando de um tema pequeno como poucas vezes se viu em sua obra e com escolhas nada óbvias. Em resumo é isto que pode se esperar de Tetro, seu mais novo filme. O tema é pequeno por que é uma história que trata de dramas familiares e da forma como eles desenham a vida dos indivíduos envolvidos de forma irreversível. As escolhas não são óbvias quando não há nenhum grande nome do cinema americano envolvido na produção: pelo contrário, temos uma infinidade de atores de diferentes nacionalidades – mas estamos falando de Coppola e ele não faria nenhuma escolha que prejudicasse o projeto. Finalmente é um filme todo filmado num belíssimo preto e branco, que lembra o clima dos filmes noir. Em comum com este estilo temos o clima misterioso em torno do passado do protagonista que dá nome ao filme – Tetro, vivido por Vincent Gallo.
Somos apresentados a ele no início do filme como uma figura pouco afetuosa, diferente de sua mulher Miranda (a belíssima Maribel Verdu de E Sua Mãe Também) que recebe com carinho e cuidado o recém chegado irmão caçula de Tetro, Bennie (Alden Ehrenreich, lindo), camareiro de um navio que tem no irmão mais velho um ídolo e ao mesmo tempo um enigma: de certa forma Tetro representa a chave para seu passado, obscuro, já que sua relação distante com o pai, um famoso maestro de Nova York nunca possibilitou que soubesse muito sobre a vida de sua mãe, há nove anos em coma.
O que Bennie não sabe é que Tetro sempre se viu sobrepujado pelo talento do pai que atraía para si todas as atenções, impedindo que ele obtivesse sucesso em sua sonhada carreira de escritor (segundo o patriarca, na família só haveria lugar para uma estrela). Mas é com a proximidade do Festival da Patagônia, promovido por Alone (Carmem Maura, musa de Almodóvar), uma respeitada crítica de literatura que alguns dados do passado de Tetro aparecerão, já que se sabe que há muito tempo existe um esboço de espetáculo escrito por ele, e que Bennie pretende terminar, a fim de salvar a vida do irmão, como ele mesmo promete.
A história do filme acaba surpreendendo em seu desfecho, e a química dos personagens é fundamental para que tudo seja convincente. Mas o grande astro de Tetro é mesmo Francis Ford Coppola. Nada como assistir a um mestre do ofício em ação e se ele sabe retratar a grandiosidade (caso dos seus Poderoso Chefão e Apocalipse Now), ele mostra aqui que consegue dar contornos monumentais a um caso de família mal resolvido, dando àqueles personagens uma tensão, e envolvendo-os numa aura de mistério, e ao mesmo tempo beleza irresistíveis. Os pequenos detalhes que definem as subjetividades (observem, por exemplo, como com o passar do tempo Bennie passa a se parecer no físico e nos trejeitos com seu irmão, na tentativa de ser como ele), a bela história de amor em família e o requinte com que ela é realizada (não há um plano que não esteja exageradamente belo) fazem de Tetro um filme indispensável.