rustin review do filme

Review Rustin: Estreia da Netflix tem Colman Domingo como grande candidato ao Oscar 2024

O Cinema de Buteco adverte: a crítica de Rustin possui spoilers e deverá ser apreciada com moderação. 

poster filme rustinUMA DAS GRANDES APOSTAS DA NETFLIX PARA O OSCAR 2024 JÁ ESTÁ DISPONÍVEL NO STREAMING. Em Rustin (George C. Wolfe, 2023), acompanhamos a história real de um dos grandes responsáveis pela Marcha dos Direitos Civis em Washington, no ano de 1963. 

Bayard Rustin, vivido intensamente por Colman Domingo, é um personagem feito para conquistar a audiência de forma imediata. Seja pelo seu sorriso carismático ou pelos motivos de lutar, Rustin é envolvente. Domingo, um ator que acompanhei anos atrás na série Fear the Walking Dead, faz o papel da sua carreira e levaria Rustin nos ombros, caso fosse necessário. Felizmente, não é apenas o ator que está muito bem. 

Ao lado dele temos um Chris Rock sem as piadas imãs de porradas e Jeffrey Wright, como um político vaidoso e decidido a atrapalhar os planos de Rustin. Aml Ameen não deixa a desejar na pele de Martin Luther King, provavelmente o nome mais conhecido pelo grande público. Porém, não se engane: quem importa mesmo na narrativa é o personagem de Domingo. 

O racismo não é a única luta de Rustin. Mesmo sendo um dos principais nomes envolvidos com King, isso não impede que ele seja vítima de homofobia, inclusive perante seus aliados no combate ao racismo. É como se ele não tivesse o direito de ser feliz e precisasse se esconder o tempo inteiro. Afinal, ser ele mesmo significa ser excluído das lutas que acredita. No final das contas, mais que contar a história de como foram os bastidores do movimento que reuniu mais de 200 mil pessoas, Rustin é um filme feito para combater aqueles que tentam impedir alguém de viver de verdade. 

Me sinto decepcionado ao perceber que, por melhor que seja o momento atual em relação ao que já foi, ainda enfrentamos os mesmos problemas. É frustrante pensar que da década de 1960 para cá, nós ainda agimos como imbecis quando se trata de respeitar as outras pessoas. O que assistimos em Rustin é puro ódio gratuito por alguém com um sonho. 

Wolfe, cujo filme anterior foi o bom A Voz Suprema do Blues, conduz bem a narrativa. Dá tempo e espaço para o desenvolvimento do seu protagonista, o que é essencial para gerar simpatia com a audiência. Gosto muito da primeira cena em Washington, quando os guardas ficam parados em um canto da tela (usando preto) e Rustin está no centro, com a estátua gigante de Lincoln ao fundo, usando branco. É perfeito para simbolizar quem está do lado certo. 

O roteiro é uma parceria entre Julian Breece e Dustin Lance Black, o último é vencedor do Oscar de Melhor Roteiro pelo lindo Milk: A Voz da Igualdade. Assim como na obra estrelada por Sean Penn, Black direciona o seu olhar para um um homem influente e idealista, que não abaixa a guarda ou desiste dos seus sonhos. 

Falando em sonhos, é uma decisão muito sábia usar apenas as últimas palavras de um dos maiores discursos da história. Ouvir Martin Luther King repetindo a famosa frase “eu tenho um sonho” poderia ofuscar o verdadeiro protagonista. No entanto, também podemos (e devemos) lembrar que a maioria das pessoas sequer sabe que discurso é esse. Um sintoma que reforça a ideia dos motivos que nos fazem até hoje precisar brigar por respeito. 

Rustin é um belo filme e merece a atenção dos cinéfilos em busca de produções inspiradas em histórias reais. O cinema pode não ser o melhor professor de história disponível, mas certamente é inspirador o suficiente para apresentar pessoas que um dia lutaram para que a nossa vida fosse um pouco melhor hoje. Nesse ponto, Rustin acerta em cheio.