(Birth) De Jonathan Glazer. Com Nicole Kidman, Cameron Bright, Anne Heche, Peter Stormare, Danny Houston
O grande problema com Reencarnação foi a sua divulgação na época de lançamento. Vendê-lo como filme de terror ou suspense é um erro. Trata-se mais de um drama sobre uma mulher que dez anos após a morte de seu marido se depara com a possibilidade de seu retorno, no corpo de um garoto. Se essa premissa evoca toques sobrenaturais, o roteiro escrito pelo estreante Jonathan Glazer não deixa espaço para isso. É mais uma história sobre a dúvida, a incerteza. Sobre uma situação extraordinária que coloca a todos num limite entre aceitar o improvável e acreditar na razão.
A mulher em questão é Anna (Nicole Kidman, numa performance fantástica), que agora está prestes a se casar com Joseph (Danny Huston). Quando Sean, agora garoto (Cameron Bright em mais um papel de menino que nunca sorri), aparece com uma postura corajosa, segura, e armado com segredos e detalhes íntimos daquele casal, o que a princípio parecia ser brincadeira de criança, acaba tornando-se motivo de desestruturação para toda a família. De uma forma ou de outra cada um se vê numa situação no mínimo desconcertante com as assertivas do garoto. Ele sabe demais, e está determinado a impedir que o casamento se realize. Sean afirma com uma certeza assustadora ser o marido falecido de Anna.
O filme é todo trabalhado em uma fotografia em tons sépia, não há cor até o momento em que Sean aparece com seu casaco azul. Anna não estava feliz, apenas consolada com o fato de que um homem que a ama e a convenceu de que existe possibilidade de reconstruir sua vida. Uma ferida será novamente aberta e talvez o casamento não precise da intervenção direta de Sean para não acontecer.
Os rumos que a história toma não deixam de ser interessantes: quando se trata de algo que não se pode explicar, apenas acreditar, o que fazer quanto às evidências que apontam para o contrário? A possibilidade da reencarnação de Sean e este seu amor incondicional por Anna esbarra nas atitudes que Sean tivera em sua outra vida. Tudo será posto em cheque. Mas independente dos rumos que história vai tomar, Anna já está envolvida demais com a reaparição do homem que ama para voltar atrás. A passagem deste novo Sean por sua vida não a deixará ilesa.
Contando com uma Anne Heche mais linda do que nunca e mostrando pela primeira vez que é atriz de verdade, todo o elenco de Reencarnação tem participações interessantes, mas o destaque mesmo é para Nicole Kidman. Como o filme é de 2005, e suas plásticas não tinham tirado toda a sua expressão, ela está fantástica como uma mulher que tenta se conformar e conviver com a dor e com a possibilidade da loucura. Possibilidade que faz com que ela haja de forma leviana, mas justificável para ela, já que ela está frente a frente com o amor da sua vida.
Reencarnação é um filme subestimado. Fato. É um belo filme, com uma bela história, sem falar na trilha sonora, que opta por momentos nada óbvios (a cena da ópera, close em Kidman: fantástica). Teve o mesmo problema que Água Negra de Walter Salles por exemplo. Mas é sempre tempo de uma segunda chance. Recomendo. É só não esperar por sustos.