Existem exemplos de filmes que são bons pela história, direção e atuações. Mas também existem outros tipos de filmes que, apesar de terem qualidade, só ganham força e destaque por conta das atuações. O Vencedor é um desses exemplos. Se não fosse as atuações sensacionais de Christian Bale, Melissa Leo, Amy Adams e até mesmo de Mark Wahlberg (ele é um ator muito subestimado, mesmo com Os Infiltrados e Boogie Nights no currículo), o filme do diretor David O. Russel não teria nem mesmo metade do seu brilho.
O filme é aguardado desde junho de 2009, quando saíram as primeiras notícias. A adaptação da vida real do boxeador Mick “Irish” Ward, dos seus dramas com o irmão viciado em crack Dick Ward (Christian Bale emagreceu muito para fazer o papel e se ele fosse o personagem principal, seria impossível não recordar da atuação de Robert de Niro em Touro Indomável) e da mistura da realização do sonho dos dois irmãos. Dick Ward é um grande exemplo de queda e ascensão de um homem. Ele vive o inferno da dependência química enquanto tenta ser o treinador do irmão, mas um incidente acaba o colocando atrás das grades. Durante o tempo em que ficou preso, ele voltou a cuidar da saúde e da cabeça. Mick conseguiu um novo treinador e com o apoio da namorada/esposa Charlene (Amy Adams linda) iniciou uma série de vitórias. Quando Dick sai da prisão, precisa lutar contra a resistência de Charlene e da nova equipe do irmão para poder provar que é um novo homem.
A produção tem uma imagem que se assemelha bastante aos documentários, com filmagens mais simples e sem os filtros que limpam o filme. Interessante perceber como David O. Russell conciliou os dois estilos, mas é no trabalho de condução dos atores que o diretor mostrou serviço de muita qualidade. Bale mostra uma atuação forte, como não se via desde Psicopata Americano e O Operário. Quando ele está em cena, com todos os 10 kg perdidos, e bancando o drogado maluco, O Vencedor flui mais fácil. A introdução com os dois irmãos conversando e a revelação de que estavam fazendo um documentário sobre a carreira falida de Dick, é um dos pontos altos do longa.
Já a trilha sonora marca presença com muito rock n`roll antigo. Os californianos do Chili Peppers deixam “Strip My Mind” como pano de fundo de uma bela sequência, quando Mick resolve voltar treinar e recuperar o tempo perdido desde a prisão do irmão. Ao mesmo tempo, Dick supera as crises de abstinência (que diga-se de passagem foram bem rápidas e curtas) e passa a treinar também. Em outro momento, Christian Bale mostra seus dotes de cantor numa sensível e comovente cena em que canta os versos de “I Started a Joke“. Essas cenas são a prova da combinação infalível de juntar uma boa música com uma cena de um bom filme. Dificilmente será possível ouvir essa canção sem se lembrar da cena, quase do mesmo jeito que é impossível ouvir “Tiny Dancer” sem se lembrar de Quase Famosos. (ok, talvez eu tenha forçado um pouco)
No final das contas, O Vencedor é um belo filme de superação. Assistimos ao crescimento e amadurecimento de todos os personagens e mesmo que o roteiro não facilite as coisas, todos os atores foram capazes de dar o seu melhor e a prova é que o elenco principal foi todo indicado ao Globo de Ouro, podendo repetir a dose no Oscar. Esse é um filme de atores, a verdade seja dita. E temos um verdadeiro show, especialmente de Christian Bale.
São 4/5 Caipirinhas.