O Tempo que Resta

(Le temps qui rest) De François Ozon. Com: Melvil Poupaud, Jeanne Moreau, Valeria Bruni Tedeschi, Christian Sengewald, Louise-Anne Hippeau, Daniel Duval, Marie Rivière, Henrie de Lorme, Ugo Soussan Trabelsi.

Romain, renomado fotógrafo desmaia durante uma seção de fotos, e ao se consultar com um medico para saber as causas do acontecido descobre que tem um tumor no cérebro que fatalmente o levará a morte. Essa é a história de O Tempo que Resta, outro belo filme de François Ozon (ao lado de Swimming Pool e Amor em 5 tempos), que apesar do enredo, em nenhum momento apela para o drama, mas apenas nos mostra a trajetória deste homem, e a sua forma bem particular de lidar com esta nova realidade.
Percebe-se isso já de cara pela personalidade do protagonista vivido por Melvil Poupaud: sempre arrogante e egoísta, difere bastante do arquétipo do doente-terminal-que busca redenção, tão comumente visto no cinema. Romain não conta para seus pais ou para o namorado sobre sua doença. Pelo contrário: decide resolver assuntos pendentes, e o faz da forma mais fria possível: trata mal sua irmã, termina abruptamente seu relacionamento, só se abrindo um pouco com sua avó vivida por Jeane Moreau, pelo simples fato de que assim como ele, “ela também tem pouco tempo de vida”. E se vemos essa frase dita por Romain com tanta naturalidade, é porque já nos acostumamos com seu jeito realista de ver a vida. Não que ele não seja capaz de amar. Mas prefere não se deixar abater nem ser visto com piedade, mesmo que isso implique em ferir o outro (afinal, nos afirmamos negando, como dizem…).
A atuação de Poupaud convence. Sempre contido e solitário, Romain já se acostumou a isso. Talvez seu único contato com o mundo seja através da fotografia, ou seja: como um espectador que apenas observa, sendo incapaz de mudar algo, de participar daquela realidade. A única realidade que conhece, é a sua própria, e o fato de ter se fechado em si mesmo, que parece ser irreversível, mesmo quando tenta alguma aproximação com aqueles que já se foram. A transformação física do ator também impressiona.

Constantemente em contato com seu passado através de visões da sua infância (algo bem justificado pra alguém já sem muito futuro), Romain encontra uma chance de “deixar algo” quando a garçonete do café que costuma freqüentar lhe pede que seja pai de seu filho, já que seu marido é estéril. A partir de então começamos a ver um Romain diferente, talvez mais realizado, e finalmente pronto para a morte.
A sequência final é bela e emocionante (e lembra um pouco o final de Amor em 5 tempos). Não há como não pensar no que faríamos se estivéssemos no lugar de Romain, o que dá um tom meio triste ao filme. Não que esta tenha sido a intenção de Ozon (há raros momentos de emoção realmente), mas o assunto em questão é sempre complicado. Afinal se pensarmos bem, aquilo que vivemos é sempre o tempo que resta. Pena que só nos damos conta disso, em momentos mais extremos, como o fez Romain.