Dirigido por Claudia Priscilla (Bixa Travesty, 2018), o documentário Eu Deveria Estar Feliz tem como tema a depressão pós-parto, contando a história de quatro mulheres que passaram por isso. O longa estreia nos cinemas de todo país no dia 07 de setembro.
Terça-feira, 05 de setembro, haverá em São Paulo uma pré-estreia aberta ao público e gratuita, às 20h, no Espaço Itaú de Cinema Frei Caneca (Rua Frei Caneca, 569). Depois da sessão, a equipe do filme, Karla Tenório (uma das entrevistadas do longa) e Vera Iaconelli, colunista do jornal e diretora do Instituto Gerar de Psicanálise, participam do Debate Folha. Dia 11 de setembro, Eu Deveria Estar Feliz será exibido no canal por assinatura GNT, à 0h15.
Por e-mail, a diretora Claudia Priscilla respondeu a algumas perguntas do Cinema de Buteco.
Cinema de Buteco: Eu Deveria Estar Feliz mostra a dureza e as dificuldades da depressão pós-parto através da realidade de quatro mulheres: a Karla é atriz e mora no Rio de Janeiro, a Lorena é professora e doula e mora na Bahia, a Bárbara é engenheira florestal e mora no Espírito Santo e a Fernanda é arquiteta e mora em São Paulo. Como você chegou a essas mulheres tão diferentes entre si, mas que sofreram do mesmo mal?
Claudia Priscilla: O maior desafio de um documentário são as personagens – em todos os sentidos. Por isso, a etapa de pesquisa é fundamental. Foram dois meses de trabalho capitaneado por Sara Stopazzolli para a busca de personagens e eu acompanhei de perto esse processo.
O documentário parte de um tema que é o ponto de contato das personagens, mas o que me encanta são os lugares e os momentos em que elas se diferenciam, onde vemos os escapes possíveis de um mesmo tema. Isso é fundamental no meu trabalho, o aprofundamento e a singularidade de cada narrativa.
CdB: Qual foi o obstáculo mais difícil que você superou para fazer este filme?
CP: Nesse filme, eu acessei lugares de dor e isso foi muito delicado. Antes de abrir a câmera, eu conversei muito com cada uma das personagens para encontrarmos juntas os fios narrativos de cada história. Nesse processo fui descobrindo também como cada uma delas conseguiu, a partir de uma ética amorosa, construir os elos com seus filhos. Essa troca foi fundamental para a construção de confiança.
A maternidade é uma experiência radical e o nascimento de um filho pode ser uma experiência complexa, turva e não linear. Para essas mulheres, foi um processo de muita dor.
CdB: Eu Deveria Estar Feliz terá pré-estreia em São Paulo e será exibido no canal GNT. Como deve ser a sua distribuição ao redor do país?
CP: O filme tem pré-estreia dia 5 de setembro em São Paulo com uma sessão aberta ao público e no dia 6 de setembro em Salvador. Esse documentário é uma coprodução com a GNT e será exibido no dia 11 de setembro na TV e depois disponibilizado na plataforma Globoplay. Essa é uma experiência nova e instigante de lançar um filme com a possibilidade de um encontro com um público amplo.
Eu acredito muito na potência do audiovisual como ferramenta para discussão de temas importantes para a sociedade.
O documentário tem uma distribuição de impacto que contempla um aplicativo para auxiliar mulheres em depressão pós-parto – desenvolvido pela equipe da UNIFESP, sessões especiais do filme para ONGs e entidades ligadas ao tema. Como também um projeto de lei para homologar o Dia Nacional do Combate à Depressão Pós-Parto, em curso em Brasília.
CdB: O seu trabalho transparece o olhar que você direciona para diversas questões enfrentadas por mulheres, a exemplo de Leite e Ferro, que mostra o dia a dia das prisioneiras de um Centro de Atendimento Hospitalar à Mulher Presa (CAHMP), e Bixa Travesty, que conta a trajetória de Linn da Quebrada. Existe alguma particularidade feminina que você gostaria de retratar nas telas e ainda não conseguiu?
CP: Sempre vai ter, ainda bem! A discussão de gênero é gigante e o cinema me possibilita colocar lentes em diferentes aspectos do tema. Esse é um tema que me move para diferentes direções.
Neste momento, estou finalizando uma série para a GNT sobre mulheres LGBTQIAP+ e suas relações com a fé e em pré-produção da série Puta Retrato, sobre trabalhadoras sexuais, com co-direção do Kiko Goifman para o Canal Brasil. E sempre tem filmes que estão prontos para sair do papel.
CdB: Para quem quer conhecer melhor o seu trabalho, seus outros filmes estão disponíveis em alguma plataforma de streaming?
CP: A maioria dos meus filmes está disponível no Canal Brasil – Bixa Travesty, Olhe Pra mim de Novo e A Destruição de Bernardet.
O documentário Leite e Ferro está na plataforma do Sesc online*.
CdB: Qual a maior dificuldade enfrentada por quem faz filmes no Brasil?
CP: É uma luta fazer cinema no Brasil, passamos pelo pior momento possível no último governo e agora estamos tomando fôlego para uma retomada – assim espero!
Os problemas vão desde a dificuldade de financiamento para as produções independentes até a exibição nos cinemas. No momento, estamos em luta pela cotas de tela que é um instrumento importante para a valorização do audiovisual.
Precisamos de novas regulamentações e políticas comprometidas com o cinema brasileiro.
* O documentário Leite e Ferro está disponível na plataforma Sesc Digital até 24/10/2023.