A franquia estrelada por Vin Diesel e Paul Walker retorna para mostrar a vingança de um irmão malvado
COMPARANDO A FRANQUIA VELOZES E FURIOSOS com uma corrida comum é possível observar que mesmo os melhores pilotos cometem equívocos. Começam bem na primeira volta. Dão uma ligeira escorregada na segunda, se superam na terceira, começam a engrenar na quarta e na quinta estão voando. Chega a sexta e bem, merdas acontecem, mas sempre teremos a volta seguinte. E se tratando da série mais lucrativa da Universal, é mais ou menos assim que acontece.
Velozes e Furiosos 7 mantém a tradição do número ímpar e o resultado é o terceiro melhor filme da série, perdendo apenas para aquele que se passa no Brasil e o original. Existem momentos de ação desenfreada, claro, mas o diretor James Wan se preocupou em dosar muito bem tensão com porrada, dando um destaque muito bem vindo para a relação dos protagonistas e a disparada do lado paizão de Vin Diesel. Se nos filmes anteriores era implícito, já que a atenção sempre ficava dividida com Paul Walker, desta vez não há o que discutir: o roteiro inteiro é em cima do carisma e força de Dominic Toretto.
Aliás, como todos sabem, Walker faleceu pouco antes do fim das filmagens e muito foi falado sobre como os produtores lidariam com essa questão. A solução foi convidar os irmãos do ator para filmar algumas cenas e usar bastante efeito especial. O público poderia ser “presenteado” com algo bem cafona, mas Wan não é um diretor medíocre e equilibrou – na medida do possível – os interesses do estúdio e também os seus próprios. Durante todo o roteiro há uma preparação para a despedida do personagem e quando isso acontece é capaz até de alguns espectadores com mais segurança em sua masculinidade se permitirem derramar lágrimas (e caso alguém perceba, foi a droga do sal da pipoca que entrou no olho e ardeu, claro). A sequência com cada personagem observando Brian e sua família, com direito a um movimento de câmera nada bem vindo, poderia causar constrangimento em outra situação, mas é justamente pelo carisma do ator, e pela tristeza genuína que tantos sentiram por sua perda, que aceitamos esse momento em que somos lançados para fora do filme em si e nos confortamos com um final feliz na ficção.
Esse clima familiar certamente ofusca, mas não esconde os equívocos de Velozes e Furiosos 7. O vilão de Jason Statham é realmente uma figura destemida, mas totalmente perdida. Velozes e Furiosos nunca foi uma franquia em que realmente houvessem pessoas que soubessem lutar. Brigar sim, mas lutar não combina. Além disso, o roteiro parece não se preocupar em fazer sentido ao fazer com que o vilão aparecesse convenientemente em todos os lugares. Primeiro, ele aparece dirigindo um Batmóvel digno dos filmes do Christopher Nolan, no meio de uma perseguição de carros eletrizante (com direito à única sequência de ação solo de Paul Walker); depois, como o Coringa faz em O Cavaleiro das Trevas, invade tranquilamente uma festa. Meu. Não. A gente aceita ver um carro voando de um prédio para o outro porque isso faz sentido na série, mas um inimigo com poderes paranormais que quer bater em todo mundo não dá. Não faz parte.
O grande trunfo do filme é certamente a direção de James Wan, que anos atrás deixou todo mundo se tremendo nos cinemas com Invocação do Mal e fez o seu nome trabalhando no gênero horror. Com desenvoltura e estilizando a câmera ao longo das cenas de mais ação e velocidade, Wan equilibra bem o pacote e seriamos todos mais felizes se o roteiro não fosse uma grande bobagem. Dwayne Johnson aparece pouco, mas o suficiente para arrasar com um helicóptero e alguns carros. E isso é extremamente divertido, já que quando entra em ação não há o menor pudor em abraçar a mitologia da série e toda a carreira do ator: uma personagem pergunta quem era esse e a câmera filma Johnson saindo de dentro de um veículo com todo estilo de quem é indestrutível e capaz de explodir cabeças alheias apenas com a força das próprias mãos. Vin Diesel está totalmente em casa, confortável e seguro de que não há como dar passos em falso. O mesmo pode ser dito de todos os coadjuvantes, que nos divertem na medida certa, como a breve presença de Kurt Russell.
Velozes e Furiosos 7 está bem acima de genéricos de ação que surgem anualmente por aí e mesmo sendo o sétimo filme de uma franquia se mantém com fôlego para novas aventuras. Prova disso é o retorno do público, que muito embora seja pela curiosidade mórbida em ver o último trabalho de Paul Walker, fez a produção bater recordes nos cinemas brasileiros e se tornar uma das maiores aberturas de todos os tempos. É questão de tempo até um novo filme ser anunciado, mas até lá fica registrado que mesmo com derrapadas, Velozes e Furiosos continua sendo a melhor opção de macho movie no mercado atualmente. Os anos 80 estão datados demais para serem levados em consideração.
Velozes e Furiosos 7 (Fast and Furious 7, 2015) Dirigido por James Wan. Escrito por Chris Morgan. Com Vin Diesel, Kurt Russell, Paul Walker, Michelle Rodriguez, Jason Statham