Kleber Mendonça Filho é meu diretor brasileiro favorito, correção, ele é um dos meus diretores contemporâneos favoritos, do mundo.
É também o principal representante do cinema nacional no exterior, e existem vários motivos para isso, com três grandes filmes de ficção em sua filmografia (“O Som ao Redor”, “Aquarius” e “Bacurau”), vou resumir dizendo que ele faz cinema de autor, assim como Bergman fez em sua “Bergman Island” ou Xavier Dolan faz em Quebec, Kleber transformou a cidade de Recife, na França “O Som ao Redor” recebeu o título de “Les Bruits de Recife” (As Ruas de Recife), o edifício “Aquarius” (que na verdade se chama Oceania) atrai turistas até hoje. E você deve estar se perguntando, por que toda essa introdução para falar sobre o documentário novo? Porque está tudo interligado.
“Retratos Fantasmas” é sobre cinemas de ruas e o centro de Recife, uma análise de como ambos já tiveram seus momentos de luxo e glória e hoje estão abandonados. Mas é também sobre a mãe de Kleber, a casa de Kleber, o bairro que Kleber cresceu e as pessoas que Kleber conheceu ao estudar e trabalhar com cinema.
Em algum momento é comentado que os centros das cidades podem ser muito parecidos, e são, o documentário expõe e transmite a melancolia, a decadência e a beleza desse lugar, que nas palavras do diretor possui um clima do tipo: ‘não gosta de mim? Foda-se’, e eu concordo.
Porém, além disso, é sobre o processo criativo de um autor. Em seus filmes estão presentes cadeados, cupim, arquitetura, prédios feios, a importância do registro, a importância da história, mulheres fortes, cinema brasileiro. Com “Retratos Fantasmas” entendemos que a casa de “O Som ao Redor” é (ou foi) a casa do próprio diretor, e que a Clara de “Aquarius” talvez seja sua mãe.
Ao olhar para o passado, Kleber faz mais uma obra que contribui para o futuro, prevejo estudantes de cinema e jovens descolados em 2049 visitando a Recife de Kleber Mendonça Filho, caso a cidade não esteja dominada por farmácias e igrejas.