Crítica: Pânico VI (2023)

A franquia Pânico ganhou novo fôlego em 2022, com o lançamento do quinto filme, o primeiro sem Wes Craven e com novos protagonistas, ainda que Sidney Prescott (Neve Campbell) estivesse presente. Com isso, a expectativa para Pânico VI (Scream VI) chegou às alturas, ainda mais com o anúncio de que Kirby (Hayden Panettiere, da série Nashville), supostamente morta em Pânico 4, voltaria, que entraria para o elenco a atriz Samara Weaving (Casamento Sangrento) e que a história, pela primeira vez, se passaria em Nova York. Pânico VI, assim como seu antecessor, tem como uma de suas maiores qualidades a não-tentativa de reinventar a roda, ainda que apresente novas regras.

O sempre tão aguardado prólogo traz um gosto agridoce, por ser diferente e menos tenso do que os outros, mas ainda apresentar um novo caminho a ser percorrido. Talvez seja este mesmo o erro nessa parte do filme, considerando que o que vem a seguir consegue prender a atenção sem tentar fazer uma revolução na história do terror slasher. O resultado e consequências desses primeiros minutos são significativos para o desenrolar da história, mas infelizmente, esse começo podia ser melhor.

Agora em Nova York, as irmãs Sam (Melissa Barrera, da série Respire!) e Tara Carpenter (Jenna Ortega, da série Wandinha) tentam seguir em frente um ano após os últimos ataques em Woodsboro. Sobreviventes do filme anterior, os irmãos Chad (Mason Gooding) e Mindy (Jasmin Savoy Brown), sobrinhos de Randy (Jamie Kennedy, morto em Pânico 2, também estão na nova cidade. De alguma maneira, todos carregam uma cicatriz, física ou emocional, consequência do que viveram em Woodsboro.

Quando novos ataques passam a acontecer, as evidências apontam para Sam, por ela ser filha biológica de Billy (Skeet Ulrich), um dos assassinos do filme original. Dessa vez, Sidney não volta e deixa a Gale (Courtney Cox) a missão de ser a única personagem presente em todas as séries de assassinatos por Ghostface, ainda que com pouco tempo em cena. Sidney não volta por questões entre a atriz e o estúdio, que não chegaram a um acordo em relação ao cachê da atriz, mas é preciso reconhecer que a história caminhou bem sem ela.

Melissa Barrera e Jenna Ortega carregam com segurança o bastão passado no filme de 2022. Suas personagens se mostram decididas em como viver depois das revelações e dos ataques que enfrentaram, mas fazem isso de maneiras distintas. Enquanto Sam tenta resolver suas questões internas e trabalha isso continuamente, tudo o que Tara quer é esquecer o que passou e viver a sua juventude, com tudo o que isso pode significar.

No novo cenário, Ghostface ataca sem o menor pudor, se permite ser visto em ação em público, está mais sanguinário do que nunca e a narrativa tornou-se muito divertida. Exceto por um ou outro personagem caricato e desnecessário, montar o quebra-cabeça para tentar encontrar a nova identidade de Ghostface ainda é instigante. Motivações, personagens e oportunidades se mostram de maneira aleatória e o espectador consegue se divertir neste jogo sangrento.

Pânico é uma franquia que consegue utilizar a tecnologia a seu favor. Passados 26 anos desde o lançamento do original, os recursos usados pelos personagens são atualizados a cada novo episódio. Mais do que isso, os adolescentes e a maneira respeitosa como são retratados podem explicar o sucesso dos filmes entre os mais jovens, que nem eram nascidos quando Sidney Prescott, então uma estudante do ensino médio, via seu mundo desmoronar. Por mais diversa que a turma de Tara possa ser, ela é formada por jovens que gostam de se divertir e que têm, cada um, seus interesses, e não por adolescentes incapazes de raciocinar ou que se dedicam a somente um tema. Pânico VI faz isso melhor do que o anterior.

Entretanto, não se isenta de tropeços na construção de Quinn (Liana Liberato, Confiar), uma jovem estereotipada em todos os momentos e em tudo o que se propõe a fazer, e na volta de Kirby. Hayden Panettiere era aguardada pelo público, mas o retorno de sua personagem pouco acrescenta à trama.

Ainda que muito divertido e com cenas tensas bem construídas, a maior falha de Pânico VI é subestimar as consequências físicas de um ataque. Personagens absurdamente feridos são capazes, não só de sobreviver, mas de correr e se defender também. É como se, aos poucos, os nomes envolvidos estivessem deixando de ser retratados como jovens comuns. Não se trata mais de como escapar de Ghostface, mas de quantas facadas se aguenta sem morrer. O pior disso é perceber sequências bem desenvolvidas e tensas que perdem seu valor quando a personagem atacada surge quase sem sequelas dos ferimentos.

Algumas das questões que ficaram em aberto e podem ser resolvidas em uma provável sequência são a identidade da mãe de Sam e Tara e uma questionável participação maior de Martha (Heather Matarazzo), irmã de Randy. Ela só apareceu em dois filmes da franquia, Pânico 3 (2000) e Pânico (2022), com pouquíssimo tempo em cena e sempre para trazer algo relacionado ao irmão. Em sua primeira aparição, trouxe uma fita deixada por Randy antes de morrer e, vinte e dois anos depois, apareceu para apresentar ao público os filhos, sobrinhos do maior cinéfilo da franquia. São fatores que podem enriquecer ainda mais a trama, com possibilidades diferentes de surpreender o público.

Sob a direção de Matt Bettinelli-Olpin e Tyler Gillett e com roteiro de James Vanderbilt e Guy Busick, Pânico VI é divertido e entretém o público. Distribuído pela Paramount, o filme estreia nos cinemas brasileiros nesta quinta-feira, 09/03/2023.