Crítica: O Último Ônibus (2021)

O campo dos filmes despretensiosos tem o seu valor e algumas pérolas escondidas, entre outros motivos, porque, ao invés de trazer uma preocupação com prêmios e de fazer história, mantém-se firmes em um dos propósitos que talvez devesse ser a prioridade de quem faz cinema: trazer ao espectador a sensação de bem-estar e emocioná-lo. Vejo Você no Próximo Verão (Jack Goes Boating, 2010), de Philip Seymour Hoffman, e O Quarteto (Quartet, 2012), de Dustin Hoffman, são exemplos de filmes que não fizeram barulho, mas que cativaram o público. O Último Ônibus (The Last Bus), do cineasta escocês Gillies MacKinnon, agora faz parte dessa categoria e se apoia no trabalho  primoroso de Timothy Spall (conhecido pelos mais jovens pela saga Harry Potter) para conduzir o espectador por parte do Reino Unido.

Tom (Timothy Spall) é um senhor ingênuo e solitário que tem o objetivo de viajar da Escócia até a Inglaterra de ônibus. Carregando a sua maleta, de quem nunca se separa, e sem revelar o que o levou a tomar essa decisão, ele se mostra bondoso, inocente e prestativo. No caminho, ele passa por diversas situações inesperadas e encontra algumas pessoas boas e outras, nem tanto.

Enquanto Tom viaja, o espectador é levado ao seu passado, através de flashbacks que mostram o protagonista ao lado da esposa, Mary (Phyllis Logan/Natalie Mitson), uma mulher que se mostra alegre, apaixonada, amorosa e, em outros momentos, melancólica. Nos momentos em que estão juntos, há diversos sentimentos envolvidos, sempre com as suas vidas entrelaçadas.

O amor entre eles é incondicional e o que há de mais importantes em suas vidas, então fica claro que a motivação da viagem de Tom mora aí. Porém há histórias onde o que importa não é o destino, mas a jornada. O trajeto de Tom e suas adversidades são o que torna O Último Ônibus um filme tão bonito. O protagonista passa por situações que não imaginava, como viajar ao lado de líderes de torcida, ir a comemorações importantes para pessoas que nem conhece e, em alguns momentos, se vê diante do lado mais feio e perverso do ser humano.

Sutileza e sensibilidade são características essenciais na direção de um filme sem pretensões, porém o segredo é saber a dose certa de cada um desses alimentos para não cair na armadilha de conceber um filme bobo. 

O roteiro de Joe Ainsworth, veterano da TV britânica, consegue despertar o lado mais receptivo do espectador e, assim, o caminho de Tom fica um pouquinho mais fácil de ser percorrido.

O filme chegou aos cinemas brasileiros (em São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Brasília, Curitiba, Florianópolis, Porto Alegre, Recife, Salvador e Vitória), com distribuição da Pandora Filmes, na última quinta-feira, 1° de junho, em um momento que diversas salas contam com filmes dotados de apelo comercial, como o live-action de A Pequena Sereia, o terror Boogeyman – Seu Medo é Real e Homem-Aranha: Através do Aranhaverso, mas o apelo de O Último Ônibus é outro. Trata-se de um filme que deve crescer no boca-a-boca por causa da leveza com que a história é contada.