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Crítica: Nasce uma Estrela (2018)

crítica de nasce uma estrelaO Cinema de Buteco adverte: A crítica de Nasce uma Estrela possui spoilers e deverá ser apreciada com moderação.

BRADLEY COOPER DECIDIU ESTREAR COMO DIRETOR EM UMA NOVA RELEITURA DE NASCE UMA ESTRELA. A história já havia ganhado as telas de cinema por três oportunidades, em uma delas com Barbra Streisand no papel feminino principal. Confesso sem vergonha de ser feliz que nunca vi nenhuma das versões anteriores e por isso será uma análise sem comparações.

Quando tomei conhecimento do projeto, Clint Eastwood seria o diretor e Beyonce daria vida para a talentosa cantora que surge para a fama. Havia uma ideia que o roteiro se inspiraria na vida de Kurt Cobain, vocalista do Nirvana que se matou em 1994, mas esse projeto acabou ficando de lado e abrindo espaço para Cooper colocar em prática o que aprendeu depois da experiência de ser dirigido por Eastwood em Sniper Americano.

O resultado?

Bradley Cooper decolou de vez com sua carreira ao participar da trilogia hilária Se Beber Não Case, quando ia intercalando com outros projetos menos “bestas”. Era de se imaginar que por trás dos belos olhos claros, existia bem mais que o novo galã da moda. Por exemplo, eu fui convencido do seu talento em O Lado Bom da Vida. Mas ainda assim, não poderia imaginar que existisse a possibilidade dele se revelar um diretor tão eficiente.

Sua visão de Nasce uma Estrela combina boas doses de risadas e lágrimas em uma emocionante história de mais de duas horas de duração. Improvável não ter um sorriso no rosto enquanto acompanhamos Jackson Maine (Cooper) se apaixonando perdidamente pela jovem cantora Ally (Lady Gaga, que recebeu merecidamente sua indicação ao Oscar de Melhor Atriz e exigiu que não existissem playbacks nas gravações).

Os leitores velhos de casa devem se lembrar do meu apreço por histórias que envolvem música. Nasce uma Estrela, assim como Quase Famosos ou Once, é um verdadeiro hino de amor às belas combinações de notas que produzem acordes que conduzem canções para tocar nosso coração. Cooper se dedica com uma intensidade absurda na caracterização de seu personagem, que sofre com depressão, a perda da audição, seus vícios, mas que encontra uma esperança no amor.

Sutilezas como Jack fazendo solos de guitarra como o Daniel Johns do Silverchair no começo da banda ou o próprio Kurt Cobain em seus momentos menos inspirados (ou seja, errando pra caralho) na primeira cena musical, mas demonstrando toda sua técnica após conhecer Ally podem não ser notados facilmente. Ally representa a esperança de dias melhores, longe dos excessos e vivendo uma alegria até então desconhecida.

Talvez mais explícito seja a escolha de “Maybe its Time” para coroar aquele primeiro contato entre Jackson e Ally no bar das drags. A música é sobre mudanças de hábitos e buscar corrigir as coisas que não estão funcionando muito bem. Ou quando Ally canta “Shallow” pela primeira vez e deixa Jack com o queixo no chão – o espectador mais sensível já derrama suas primeiras lágrimas por toda a beleza de ouvir um talento tão especial quanto de Lady Gaga em cena. É bem simples: quem ama música e tem um coração, sabe que a cantora (e agora, definitivamente, atriz) merece seu lugar entre as cinco atrizes indicadas pela Academia.

Como outro pilar de sustentação de Jack, temos o seu irmão vivido por Sam Elliott, que também foi agraciado com uma indicação ao Oscar, na categoria de Melhor Ator Coadjuvante. A cena em que Bobby discute com o irmão mais novo é de partir o coração – e como disse numa transmissão ao vivo no final do ano de 2018, garantiria uma indicação ao Oscar. Mãe Dinah de BH, sou eu, sou eu.

Aliás, outro detalhe na atuação de Bradley Cooper é como sua linguagem corporal e entonação vocal tentam emular o estilo de Sam Elliott. É o mesmo jeitão de falar com um sotaque todo carregado, que ganha ainda mais força quando Jack se declara para o irmão afirmando que sempre o admirou demais.

Eu poderia prosseguir com o texto todo enaltecendo as outras habilidades de Bradley Cooper como diretor (vou citar apenas a escolha curiosa de excluir trilha sonora durante a primeira transa do casal e deixar apenas o som “ambiente” de gente se despindo, salivando, mordendo etc), mas não precisamos disso.

Com suas oito indicações ao Oscar 2019, Nasce uma Estrela se credencia como uma obra especial e que faz realmente nascer um diretor que demonstra uma capacidade inesperada de narrar histórias emocionantes. Caso não tenha visto ainda, peço perdão por arruinar sua experiência (ao mesmo tempo que digo bem feito por ter ignorado o aviso no começo da crítica de Nasce uma Estrela) e sugiro que faça essa enorme gentileza para sua alma. Vá se deliciar com uma trágica história sobre um cara consumido pela culpa de não se encontrar.