SERIA O AMOR UMA REALIDADE OU APENAS UMA GRANDE TRAPAÇA? Continuando seu projeto de um longa-metragem por ano, o genial Woody Allen novamente caminha em cima dos conflitos românticos que movem os nossos corações. Como metáfora para trabalhar com o amor, o cineasta introduz na trama o elemento da magia, aqui muito bem encarnada na dupla Colin Firth e Emma Stone. Ainda assim, a verdade é que Magia ao Luar é uma produção medíocre em relação aos trabalhos mais recentes do diretor (que ainda não conseguiu superar Meia-Noite em Paris, de 2011), mas como dizem por aí: um filme médio de Woody Allen é melhor que muitos filmes considerados bons.
Devo adiantar que filmes que usam a mágica como elemento base do roteiro costumam me incomodar. O Grande Truque, de Chris Nolan, é uma exceção. Não é que mágica seja algo que me deixa entediado ou irritado, simplesmente não parecem existir obras boas o suficiente para mudar a minha opinião. O curioso é que o roteiro de Magia ao Luar faz uma comparação agradável (e leve) da magia com o amor, esse sentimento irracional que costuma dominar nossas mentes e corações de vez em quando. Com essa brincadeira, Allen joga a realidade na nossa cara: assim como a magia, o amor é algo em que você simplesmente precisa ter fé para acreditar e se jogar de cabeça. Existirá sempre o risco de ser enganado, de se arrepender, mas a verdade é que se você passar a vida inteira querendo desvendar a mecânica do “truque”, nunca conseguirá de fato viver, sentir e aproveitar os momentos com toda a intensidade possível.
O roteiro apresenta esse mágico experiente (Firth) que é contratado para desmascarar uma jovem (Stone) que parece realmente capaz de fazer mágicas verdadeiras. Como de praxe nos filmes de Allen, o protagonista é extremamente irônico (o que combina perfeitamente com as feições arrogantes de Colin Firth) e sofre com o complexo virginiano de se achar a pessoa mais inteligente e imune aos erros mentais dos humanos normais. Verdade seja dita, esse tipo de personagem já ficou bem chato. Tanto que um dos principais problemas de Magia ao Luar é exatamente no personagem de Firth, que apesar de desempenhar a função muito bem, parece não conseguir oferecer mais do que uma sombra do próprio Allen. Emma Stone é encantadora, como sempre.
A magia acontece justamente quando nosso protagonista, um narcisista de marca maior, se vê num beco sem saída e passa a questionar todas as suas convicções por conta de um sentimento inédito que preencheu o seu vazio interior e o fez refletir sobre os valores da vida. Além das várias citações ao filósofo Nietzsche, é possível observar uma menção ao conto A História de um Brâmane, de Voltaire. No texto, assim como no filme, existe um forte questionamento da curiosa relação entre curiosa insensatez de preferir a razão no lugar da felicidade.
Se há alguma coisa perfeita em Magia ao Luar, não existe a menor dúvida que seja a sua trilha sonora absolutamente incrível e muito bem colocada. O clima nostálgico da obra chega a dar sono em muitos momentos, literalmente, mas quando ouvimos “You Do Something to Me”, de Cole Porter, é uma injeção de ânimo que nos faz recordar da época de ouro do cinema – o que provavelmente deveria significar mais sono para algumas pessoas, mas ironicamente funcionou ao contrário para mim. Como sempre, as opções pelo jazz garantem uma trilha sonora de qualidade e já são características do cinema de Allen.
Considerando todo o talento de Woody Allen em fazer filmes tocantes e sensíveis, Magia ao Luar pode acabar decepcionando. Ele possui as características das obras do diretor, mas parece que é desprovido de elementos que tornam possível criar empatia pelos protagonistas e seu romance. No entanto, para aqueles que ainda não conhecem o suficiente da carreira do cineasta (e então recomendo que leiam esse artigo), pode ser um delicioso romance descompromissado e com várias sacadas inteligentes nos diálogos e com um final feliz para acalmar o coração. Cabe a cada espectador encontrar o melhor caminho para a apreciação do filme.
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