critica de as branquelas

Crítica de As Branquelas (2004)

poster as branquelasO CINEMA DE BUTECO ADVERTE: A Crítica de As Branquelas possui spoilers e deverá ser apreciada com moderação.

JURO QUE DEI UM VOTO DE CONFIANÇA E ME ESFORCEI AQUI. Quando publiquei a lista de melhores filmes de comédia dos anos 2000, recebi um volume assustador de reclamações dizendo que “sem As Branquelas não tem credibilidade” ou “As Branquelas é o melhor filme de comédia do mundo”, wtf que seja.

Foi provavelmente a primeira vez na história do Cinema de Buteco em que isso aconteceu. Fiquei meio inseguro. Depois quando iniciei o projeto 365 filmes em um ano, alguém sugeriu que eu comentasse sobre esse filme. Decidi até mesmo escrever a crítica de As Branquelas, que é isso que você está lendo agora.

Pois bem…

Qual foi a surpresa que eu não tive ao constatar que minha lista de melhores filmes de comédia dos anos 2000 não ficou “invalidada” por conta dessa “ausência criminosa”? As Branquelas é uma quantidade imensa de besteiras que não funcionam – e olha que sou fã de besteiras.

Até posso entender que As Branquelas cause apego afetivo para aqueles que nasceram nos anos 1990 e começavam a entrar na adolescência na época do seu lançamento. É fácil se envolver, afinal é uma obra que convida a gente a embarcar numa viagem doida, sem noção, digna de conto de fadas (daqueles com piadas com peidos e arrotos). É como se a gente, como jovem adulto, tivesse a permissão de voltar a ser criança no cinema sem precisar ver algo da Pixar ou que fosse “certinho” demais.

Por exemplo, a trama parte do pressuposto que se Clark Kent é irreconhecível porque usa óculos, dois negros podem se passar por duas loiras e enganar todo mundo. O lance é que isso já é meio idiota com o Superman, sabe? Mas ok… faz parte da fantasia. Faz parte do contexto de humor. Eu aceito.

Só que existem outros problemas mais complicados de lidar. Começando pela atuação da dupla principal, que fora o momento “Whats up?” em Todo Mundo em Pânico, nunca fizeram nada realmente engraçado. Até gostei do recente Nu, disponível na Netflix, mas nada espetacular ou inesquecível. Ou engraçado. Marlon e Shawn Wayans se esforçam, mas são no mínimo simpáticos.

Podemos rir do Terry Crews como o infame Latrell. Aliás, quero acreditar que seja ele o grande responsável pelo sucesso de As Branquelas. Vejamos… um negro rico, bombadão, que pode ter a mulher que quiser… e se apaixona por um homem disfarçado de mulher. É meio raso, mas dá para levar. De alguma forma, é “engraçado” ver um negro bem sucedido virando piada por ser aparentemente gay – e racista.

Porra, TT! C tá problematizando a porra de As Branquelas?”, você se pergunta.

Sim, eu estou, bicho.”, eu respondo. Mas vamos lá… não quero dizer que é errado, pois acredito que a interpretação pessoal de cada um é muito particular e quero acreditar que seja uma fina ironia e homenagem ao clássico Quanto Mais Quente Melhor, que a maioria das pessoas que idolatram As Branquelas não devem nem conhecer. Tudo bem. Ninguém é obrigado!

(Mas recomendo que pare de babar de ódio ou pensar nas ofensas que planeja disparar contra esse delinquente aqui, e procure Quanto Mais Quente Melhor para se divertir)

Bem… eu deveria parar por aqui. Acho que já estou parecendo um defensor ferrenho do politicamente correto (apesar de recentemente ter cantado “Bonde da Orgia dos Travecos” ao vivo numa transmissão. Não tem nada mais politicamente incorreto que cantar U.D.R., mano!), mas quero pistolar com o que me deixou mais inquieto.

O amor é cego pra caralho mesmo, porque só isso para explicar o Marcus ter continuado com a tia ciumenta lá. É “OK” gostar de gente que fuça o seu celular, atormenta o seu trabalho ou vai ter perseguir na puta que pariu só para confirmar o que você tá fazendo? Não é OK. Entenda que o problema não é fazer piada com o comportamento possessivo e psicótico da esposa do cara, mas fazer isso de um jeito pateticamente caricato e desprovido de momentos realmente engraçados. Fora a amiga da esposa, nada nela funciona.

Talvez com um roteiro que se permitisse abraçar o humor negro sádico ou o besteirol para chocar o povo de bem, As Branquelas tivesse algum mérito. No entanto, ele se apoia em dois atores que tentam ser mais engraçados do que de fato são e numa narrativa bobinha, que nada desafia seu público ou cria momentos realmente divertidos.

Confesso que queria ser menos rabugento e poder dizer que gosto de algo que todo mundo gosta (e falta morrer de tanto rir), mas não é o caso. As Branquelas é só uma comédia boba que por algum motivo bizarro nunca será esquecida. Daqui dez anos, prometo rever e tentar mudar a minha opinião porque eu realmente quero achar essa história engraçada. Juro.

Cada geração tem seu Débi e Lóide que merece… (e o pessoal dos anos 1990 se fodeu muito se As Branquelas é o melhor que eles tiveram! HAHAHAHA)