Closer - Mike Nichols

Crítica: Closer – Perto Demais

EM 2012 ESCREVI MEU PRIMEIRO REVIEW SOBRE CLOSER – PERTO DEMAIS, de Mike Nichols. Em razão do projeto maluco de ver 365 Filmes em Um Ano, fiz uma revisão da obra e gostaria de colaborar um pouco mais para a reflexão dos leitores do Cinema de Buteco sobre essa produção tão forte sobre relacionamento.

Falar do roteiro afiado pode parecer repetitivo, né? Sabemos que Closer tem alguns diálogos memoráveis que estão bem frescos na mente dos espectadores. No entanto, esse roteiro funciona especialmente ao ritmo cadenciado de Nichols em contar a história e apresentar seus personagens.

As passagens de tempo são sutis e o espectador desatento pode não absorver exatamente o que cada mudança de cenário representa. Digo cenário de forma proposital, afinal Closer é baseado numa peça de teatro. O longa possui 9 momentos distintos em que os quatro personagens se relacionam – e em apenas um deles, os quatro estão juntos.

São esses personagens tão destruídos e desequilibrados emocionalmente que tornam Closer especial – ao mesmo tempo em que nos convida para uma indesejada identificação com características de todos.

Anna, vivida por Julia Roberts, por exemplo. Ela é a pessoa mais frágil da história, mas suas atitudes não deixam de ser condenáveis. Tanto pelo que causa para as pessoas ao seu redor quanto para si mesma. Depressiva, Anna fica dividida entre a vontade de se permitir ser feliz e a vontade de ter aquilo que acha que merece. No caso, Larry representaria a felicidade (muito embora seja questionável se realmente Anna foi feliz em algum momento com o marido) e Dan seria ter o que merece (um relacionamento baseado em estruturas pouco confiáveis com alguém igualmente fucked up emocionalmente).

Alice, na pele de Natalie Portman, mesmo sendo mais equilibrada que todos os três personagens mais velhos da narrativa, também está longe de ser uma pessoa saudável. Inicialmente, como alguém pode viver quatro anos com outra pessoa sem revelar seu verdadeiro nome? Mesmo com os graus elevados de desinteresse ou egoísmo de Dan, seria impossível não contar a verdade. Ela opta por ganhar a vida como stripper, pois é o que ela gosta de fazer ou porque é o mais fácil? Não seria Dan sua tentativa de apego a alguém que simplesmente nunca lhe deu o devido valor, e nesse caso, assim como Anna, revelando esse lado depressivo e inseguro da personagem?

O que dizer de Larry, personagem de Clive Owen? Autonomeado “troglodita”, o médico representa o oposto de Dan. É um homem grosso, rude, objetivo e desprovido de qualquer tato ou sensibilidade. Ainda assim, mesmo com esse aspecto de homem das cavernas, Larry encanta Anna e Alice, que de forma instintiva reconhecem nele uma figura territorialista e com um lado selvagem irresistível. Só mesmo esse lado inconsciente para explicar como alguém de modos tão grosseiros e simplórios consegue ter a atenção das duas personagens femininas.

Por último, Daniel (Jude Law) é o personagem mais fantástico de Closer. Com todos seus defeitos e qualidades, notamos como Daniel vai evoluindo no decorrer da narrativa. No tempo 1, quando ele acompanha Alice até o hospital, Dan é um bunda mole, inseguro, com o corpo curvado e atitudes traiçoeiras (que podem ter justificado a opção de “Alice” ter mentido sobre seu nome, afinal não imaginava que pudesse ter aquele homem). Já no tempo 2, agora como um escritor prestes a lançar seu livro, Dan tem uma postura totalmente diferente, mas repete suas atitudes infieis quando flerta com Anna minutos antes de encontrar com Alice. Dan é desprezível com seu egoísmo e sua incapacidade de pensar em algo diferente do que seu próprio benefício, e é justamente por ser um verdadeiro rato que é o personagem mais incrível (e filho da puta) de Closer.

Com ecos de Quem Tem Medo de Virginia Woolf?, dirigida pelo próprio Nichols em 1966, Closer – Perto Demais se destaca como um dos principais filmes sobre relacionamentos de todos os tempos. Se não apenas pelo lado técnico, mas por toda a crueza com que retrata personagens recheados de falhas de caráter e assustadoramente próximos do que nós mesmos fomos um dia (ou somos quando ninguém está olhando).