Imagem: Pandora Filmes

Crítica: Carvão (2022)

Após exibição nos Festivais de Toronto, San Sebastian, e no Brasil, no Festival do Rio e Mostra Internacional de Cinema de São Paulo, Carvão, o primeiro longa-metragem de Carolina Markowicz (cineasta conhecida e premiada por seus curtas) estreia nos cinemas. O curta O órfão está disponível no Vimeo da cineasta e você pode assistir aqui.

Em Carvão, a família formada por Irene (Maeve Jinkings, de O Som ao Redor), Jairo (Rômulo Braga, de Valentina) e Jean (Jean de Almeida Costa) tira o sustento do trabalho em uma pequena carvoaria. Com sentimentos que se confundem entre a esperança de uma bem-vinda ajuda financeira e o constrangimento por entender que essa é a única maneira de tentar melhorar a vida da família, Irene cede ao pedido de uma conhecida e recebe em sua casa um traficante estrangeiro. Trata-se de Miguel (César Bordón, de Relatos Selvagens) e a sua chegada à humilde residência altera o dia a dia da família, que conta também com um idoso, pai de Irene, que precisa de cuidados.

A quebra da rotina simples e humilde da família desencadeia uma mudança de comportamento em todos os componentes e expõe as necessidades, carências e desejos de cada um. Questões como homossexualidade, pendências afetivas e repressão sexual passam a ocupar um espaço cada vez maior na vida dos moradores da casa e a maneira como lidam com isso é o fio condutor de Carvão. As questões passam, inclusive, por Jean, que sente falta de uma figura paterna mais presente emocionalmente e passa a depositar sua necessidade de afeto no novo morador da casa.

Enquanto o espectador é exposto às reações de cada integrante da família, fica evidente a dificuldade de determinar quem é bonzinho e quem é malvado na história. A índole de cada personagem se confunde no meio de ações inesperadas e de situações que provam cada um deles. Aos poucos, o absurdo se torna natural e é como se sempre tivesse sido assim.

A direção de Carolina Markowicz é precisa e mostra domínio na narrativa que carrega um leve tom de melancolia, talvez pelo peso da necessidade e pela família viver sempre no limite, prestes a desabar financeiramente, além da falta de perspectiva. Porém a acidez do filme não se perde em nenhum momento e é levado ao longo de toda a narrativa.

O elenco poderoso conta também com o trabalho sempre primoroso de Camila Márdila (Que horas ela volta?).

Carvão disputou vaga para representar o Brasil no Oscar 2023 e, apesar de ser um filme competente, a tarefa ficou a cago de Marte Um, de Gabriel Martins. O filme estreia dia 3 de novembro nos cinemas das cidades de São Paulo, Rio de Janeiro, Vitória, Aracaju, Manaus, Belo Horizonte, João Pessoa, Curitiba, Porto Alegre, Maceió, Recife, Salvador, Brasília e Ribeirão Preto.