ACREDITE EM MIM: Cake: Em Busca de Uma Razão Para Viver (Cake) é bem mais que o longa-metragem dramático em que Jennifer Anniston mostra que é uma puta atriz capaz de emocionar os espectadores com lágrimas e angústia. Por mais que ela seja o principal trunfo da produção, por trás de sua performance há uma bela história sobre o sofrimento causado pelo luto e a depressão. Para o espectador sempre acostumado a vê-la em comédias românticas, assistir a um autêntico drama em que é necessário ser bem mais que um rostinho simpático e bonito é motivo de uma inesperada satisfação.
A história aborda o tema da depressão sem se deixar cair em truques baratos, como o uso de trilha sonora mais presente e piegas, e com o cuidado de não transformar a protagonista em uma vítima. Ela é sim vítima das circunstâncias, mas parte da sua situação atual é causada especialmente por sua maneira agressiva e arrogante de ser. Quem já enfrentou a perda de um ente querido ou conhece bem os fantasmas da depressão, certamente conseguirá entender o comportamento de Claire (Anniston).
Cake é um filme baseado especialmente nos conflitos psicológicos de sua protagonista. Ou seja, Anniston ocupa mais de 90% das cenas da produção. Assim como Matthew McConaughey em Clube de Compras Dallas, no ano passado, e mais recentemente Julianne Moore, em Still Alice; e Reese Whiterspoon, em Livre, é um projeto feito para buscar premiações e reconhecimento para uma carreira longa e recheada de bons momentos. Certamente não é o tipo de produção em que qualquer atriz se arriscaria, afinal é um verdadeiro desafio ser uma das principais responsáveis por agradar ou não ao público. No caso de Anniston, até mesmo por sua simpatia e carisma, o jogo estava ganho desde o começo, mas a atriz demonstrou total capacidade de convencer até mesmo aqueles que nunca viram nada demais em sua carreira.
Não demora muito para que ela nos convença da força da dor em sua protagonista. Claire abusa da bebida, trata mal todas as pessoas ao seu redor, faz sexo com qualquer pessoa (inclusive, a cena em que ela transa com seu jardineiro é bem forte. Não no sentido gráfico, mas na maneira quase robótica com que lida com aquilo, deixando bem claro que aquela transa é apenas por necessidade e como uma maneira de se machucar. A câmera faz questão de focar, de maneira eficiente, na aliança do rapaz, o que apenas torna a cena mais forte), e parece decidida a acabar com a própria vida a qualquer momento.
Como disse, existe uma história muito bem construída para auxiliar a atuação de Anniston, que mantém uma expressão de indiferença, um vazio existencial bem grande, durante todo o filme. Nas poucas cenas em que ela se propõe a ter coragem de arriscar, como ao receber o marido e o filho de sua colega suicida, a “vida” se encarrega de ser dura e cria grandes obstáculos para a sua recuperação.
Além de Anniston, o elenco inclui a participação da linda Anna Kendrick, como uma espécie de alucinação constante para representar as dores e sofrimento de Claire; e Adriana Barraza, que vive um anjo da guarda na vida de Claire. Sabe aquele tipo de pessoa que se encarrega de cuidar de quem precisa, mesmo que isso signifique ser maltratado, ofendido e humilhado? Essa é a Silvana. Com um coração enorme, ela mantém a sua fé na recuperação da patroa e aceita o fato do caminho para isso ser bastante complicado, já que ela se torna a principal vítima de Claire. No entanto, o filme é inteligente ao mostrar a profundidade da relação das duas, como no momento em que visitam o México e são abordadas por duas barangas metidas a besta que tentam desmoralizar Silvana o tempo inteiro.
Na mesma temporada em que Reese Whiterspoon mostrou que é bem mais que “legalmente loira”, também tivemos o prazer de descobrir que Jennifer Anniston pode ser mais que a eterna Rachel Green. Pode não ser novidade para ninguém que acompanha a atriz de perto, mas para a maioria do público é uma verdadeiro surpresa conhecer esse lado sério da atriz.