Crítica ‘Barbie’: Greta Gerwig faz cinema de autor em filme fenômeno da boneca mais famosa do mundo

Recentemente a roteirista Diablo Cody (Juno) deu uma entrevista revelando que já havia escrito um roteiro para Barbie e que foi rejeitado pelo estúdio. Segundo ela, há 10 anos o público em geral não enxergava na boneca uma figura feminista.

Que bom que as coisas mudaram, e se pensarmos bem, a Barbie sempre foi uma figura feminista, e a diretora e roteirista Greta Gerwig nos mostra isso de maneira brilhante com seu filme mais novo, já no início temos uma referência a “2001 – Uma Odisseia no Espaço”, onde a chegada de Barbie (Margot Robbie, perfeita) representa um novo rumo para garotas, que até então tinham apenas a opção de serem “mães” cuidando de bonecas bebês.

Após essa introdução, somos apresentados a Barbielândia, onde tudo é exatamente como nos brinquedos da Mattel, ou seja, casas de plástico sem escadas e paredes, e isso da um certo tom de esquisitice infantil, que me remeteu aos filmes do Tim Burton. E vale ressaltar que esse é um dos pontos altos do filme, um trabalho de fotografia e design de produção apuradíssimo e sem uso do maldito CGI (que é quase obrigatório nas superproduções atuais).

A Barbielândia é liderada por mulheres, ou melhor, por Barbies, elas são médicas, escritoras, presidentas entre outras profissões, já os Kens são apenas Kens, bonecos que existem e dependem do olhar feminino. O roteiro de Greta e seu parceiro Noah Baumbach subverte a realidade e faz o delicioso exercício de imaginar uma sociedade onde as mulheres ditam as regras desde sempre. Isso tudo é posto muito rapidamente na trama e de maneira muito nítida, sem nenhuma sutileza, mas ao contrário do que sugerem algumas pessoas que estão criticando o longa justamente por isso, a ideia não é absurda ou feita para “lacrar” (como eles gostam de falar), além de ser uma forma eficaz que os roteiristas fizeram para jogar luz em temas óbvios, é também criativo ao imaginar como as crianças brincam no universo da boneca.

Comentei sobre a referência na introdução, mas a verdade é que o filme é todo cheio de referências, e todas elas são introduzidas de maneira muito orgânica, quando Ken (Ryan Gosling) visita o mundo real, ele conhece e admira várias figuras masculinas, entre elas está uma foto de Sylvester Stallone no auge da era Rocky nos anos 70, ao voltar para a Barbielândia ele incorpora o estilo de Stallone ao seu, um belo trabalho de figurino diga-se de passagem. Em outro momento ocorre um incrível número musical dos Kens, liderado e cantado por um Ryan Gosling afetadíssimo (no melhor sentido da palavra), onde o cenário é apenas um fundo claro, que me remeteu aos números musicais de filmes como “Cantando na Chuva” e “Os Homens Preferem as Loiras”. Mas todas essas referências são apenas inspirações que ajudam a compor um cenário totalmente original.
Barbie é uma obra inteligente, engraçada e emocionante, principalmente por ter uma marca autoral e mesmo assim conseguir se comunicar com tantos públicos.
Parabéns Greta Gerwig, tenho certeza que as próximas gerações também serão muito gratas.

P.s: Eu adorei o personagem do Allan (Michael Cera) e acho que ele é um aliado.